Especialistas alertam que, além de afetar o bem-estar físico das pessoas, problemas ambientais podem comprometer a saúde mental, causando ansiedade, distúrbios do sono, nervosismo e pânico
Ecoansiedade, um transtorno que aflige muitos brasilienses
As altas temperaturas e a baixa umidade do ar que atingem o Distrito Federal tendem a afetar as pessoas não só fisicamente, mas mentalmente, segundo especialistas. Nessa época, destacam os profissionais, os indivíduos experimentam uma sensação de impotência diante dos problemas ambientais.
A perda de biodiversidade e a degradação do meio ambiente podem causar sintomas de estresse, distúrbios do sono, nervosismo, sensação de sufocamento e desesperança, segundo Letícia Isabela, psicóloga do Grupo Mantevida. "A ecoansiedade — estado de medo em relação às mudanças climáticas e suas consequências — surge quando essa conexão é comprometida pelo descaso com as mudanças climáticas e a degradação da natureza", explica.
No entanto, o transtorno não afeta todos igualmente e tende a ser mais prevalente em pessoas que são mais conscientes sobre a proteção do meio ambiente, afirmou Letícia. "Beber bastante água, fazer uso de umidificadores ou toalhas molhadas e bacias com água passam a ter ainda mais importância. A situação vivenciada atualmente nos força em direção a um despertar e enfrentamento em relação ao cuidado do meio ambiente", pontuou.
Giovana Siqueira, moradora de Taguatinga, perde o sono preocupada com as crises ambientais que, segundo ela, só pioram (foto: Fotos: Luis Fellype Rodrigues/CB/D.A Press)
Os impacto psicológico das queimadas é sentido pela moradora de Taguatinga, Giovana Siqueira, 21 anos. "Estou bastante estressada e com perda de sono. Durante o dia, eu quero dormir, mas à noite ele vai embora. Algo que me impacta bastante é pensar em como será o mundo daqui para frente. Todo ano que passa, tudo está ficando pior, são várias queimadas, muitas enchentes, e parece que ninguém se importa com isso", observou.
Para se distrair e não ficar pensando na situação ambiental, Giovana tenta se concentrar em algumas atividades. "Vou estudar ou ler alguma coisa. Também costumo fazer natação e correr ao ar livre. Se eu ficar focada em como o mundo está, eu acabo pirando a cabeça. Não gosto de pensar em como será o futuro para não perder o presente", pontuou.
Desafios
Os desafios de adaptação a novas condições tendem a ser mais desafiadores, explicou Silvia Marchant Gomes, membro da diretoria da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr). "As mudanças do clima estão aparecendo nas manchetes e sendo vividas na pele, seja nas enchentes ou na secura. É importante não virarmos o rosto, entendermos que somos parte desse sistema, e estudarmos o nosso impacto na linguagem do clima", detalhou.
Moradores das áreas mais afetadas — pelas condições climáticas — são colocados à prova, de acordo com Silvia. "Às vezes, as pessoas se veem em pânico, se desesperam, mas, quando passa, sentem-se mal. Nessa hora, é importante buscar ajuda e não ter vergonha. A crise diante do novo é usual, não é normal porque traz sofrimento, mas é completamente compreensível", descreveu.
A crise diante do novo foi algo que fez Gleydson Lennon Dias, 22, refletir sobre a vida e a necessidade de frequentar a academia, já que, na visão dele, é algo que não terá tanta importância daqui para frente. "Esta semana, por conta dessa condição climática que estamos enfrentando, muitas pessoas acabam passando mal. Estou frequentemente com dores de cabeça. Sem contar o desânimo com relação ao futuro. Por exemplo, metade da Floresta Nacional de Brasília pegou fogo. Para reconstruir essa perda, vai demorar muito, e vamos sentir bastante daqui para frente", comentou.
"É algo que me abate bastante. Já pensei se era necessário estudar e trabalhar tanto para o futuro não existir por conta das condições climáticas. Mas eu busco fazer coisas que gosto, para não pensar demais", finalizou Gleydson.
*Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado