Indícios apontam ação criminosa e inquérito foi instaurado pela Polícia Federal. Queimadas aumentaram 50% em relação a 2023. Ibaneis Rocha suspende férias de todo o efetivo do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal para trabalho preventivo
PF investiga incêndio no Parque Nacional e combate às queimadas é intensificado
As ações de combate e monitoramento de incêndios estão sendo reforçadas no Distrito Federal. A Polícia Federal instalou inquérito para investigar o incêndio no Parque Nacional, cujos indícios apontam ser ação criminosa. Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), houve um aumento de 50,2% nas ocorrências de incêndio de 2023 para 2024 considerando o período de janeiro à metade de setembro.
O governador Ibaneis Rocha (MDB) determinou a suspensão das férias de todo o efetivo do CBMDF para reforçar o combate e monitoramento aos incêndios. Ao todo, entre bombeiros, servidores do Ibram, Secretaria do Meio Ambiente e Defesa Civil, um contingente de 1,5 mil pessoas atua no combate às queimadas no parque.
De acordo com Ibaneis, a ideia é a de que os bombeiros passem a "ir aos locais que costumam ter incêndio e não apenas trabalhar quando o fogo já surgiu". Além de suspender as férias, o chefe do Executivo local também confirmou que os bombeiros que estão cedidos para a Força Nacional voltarão para o DF.
Segundo o coronel do CBMDF Marcos Rangel, há 500 militares de sobreaviso aguardando o chamamento nos quartéis caso haja a necessidade de aumento do efetivo. "Trata-se de um trabalho exaustivo, mas todos os profissionais são especialistas no combate a incêndios florestais. Nossa maior cautela é com relação ao posicionamento do vento, que pode colocar as equipes em risco". No domingo (15/9), um bombeiro sofreu queimaduras de primeiro grau durante o enfrentamento do fogo. "O vento mudou de direção e pegou a corporação desprevenida. O militar tentou correr, mas foi atingido. Ele foi atendido e liberado ainda no mesmo dia", completou Rangel.
Prejuízos
Após 12 horas de combate ao fogo, iniciado próximo ao Córrego do Bananal, no domingo (15/9), as operações foram reiniciadas às 6h de ontem, divididas em três pontos com focos de incêndio. Além dos militares em campo, a corporação conta com um helicóptero e um nimbus — avião especializado de combate a incêndio — sobrevoando o local. Cada aeronave tem capacidade para lançar três mil litros por viagem.
Quatro militares foram deslocados para o lançamento de água na linha de fogo, que ocorre quando as chamas atingem grandes alturas. Não foram utilizados drones, devido ao risco que poderiam causar ao deslocamento das aeronaves. Até a última atualização do CBMDF, 700 hectares do Parque Nacional já haviam sido atingidos pelos incêndios. João Paulo Morita, coordenador de Manejo Integrado do Fogo do ICMBio, ressaltou que as principais dificuldades no combate ao fogo estão na seca, no calor e na mudança de direção do vento.
Para Morita, é grande a hipótese de incêndio criminoso. "Não teve nuvens aqui (Parque Nacional), e a única forma de incêndio natural é por ignição de raio, o que também não ocorreu", destacou. Há, ainda, a possibilidade das matas de galerias — vegetações mais fechadas que protegem os rios — terem sido prejudicadas, alterando, também, a qualidade da água utilizada por comunidades próximas ao parque. "No momento, não há registros de animais mortos ou de fugas, visto que o foco está no confinamento do fogo. No entanto, quando ocorreram incêndios na Flona, houve um trabalho efetivo em relação à fauna, portanto, aqui não será diferente", garantiu o coordenador de Manejo Integrado do Fogo do ICMBio.
Em abril, o governador Ibaneis decretou estado de emergência ambiental no DF para o período de junho a novembro, visando combater futuros episódios de incêndios florestais, no período considerado o mais seco do ano. A ação possibilitou otimizar recursos humanos e materiais em relação às queimadas, por parte dos órgãos que compõem o Sistema Distrital de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais que executa o Plano de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Distrito Federal (Ppcif).
"Recebemos dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) que passavam uma incidência do La Niña muito mais agressiva no DF e na região Centro-Oeste como um todo. Frente a isso, solicitamos que prorrogasse o decreto para que consigamos tomar algumas medidas emergentes, como a contratação imediata de brigadistas e compra de equipamento de proteção individual sem uma licitação", explicou Carolina Schubart, coordenadora do Ppcif da Secretaria de Meio Ambiente (Sema-DF).
Monitoramento
Intensificar o combate para não deixar o incêndio prosperar é, para o presidente do Brasília Ambiental (Ibram), Rôney Nemer, o principal objetivo do órgão. "O secretário de Segurança Pública vai fazer contato com a Polícia Federal para identificarmos as pessoas que estão colocando fogo nas nossas unidades de conservação", adiantou após reunião no Palácio do Buriti, na manhã dessa segunda-feira (16/9). Segundo o Ibram, está sendo montado um cronograma de monitoramento presencial nas unidades de conservação geridas pelo instituto com maior incidência de incêndios florestais.
O órgão informou que uma equipe de 150 brigadistas foi contratada em junho. Os profissionais são responsáveis por auxiliar no combate ao fogo, na prevenção, na realização de aceiros, no apoio à educação ambiental, dentre outros. Além disso, há cinco drones espalhados pelas unidades de conservação do Distrito Federal. Os equipamentos foram adquiridos por meio de compensação ambiental, que é um instrumento de compensação financeira em que, quando a empresa precisa pagar uma taxa de compensação ambiental para construir algo e o pagamento se dá em forma de pecúnia, equipamento, reflorestamento ou proteção de área degradada.
"É preciso combater o fogo não apenas no período da seca. Por isso, a importância da prevenção. Buscamos a contratação de mais brigadistas e combatentes de maneira ininterrupta", afirmou Rôney Nemer. "Durante a madrugada desta segunda, a qualidade do ar estava bem ruim. Devido à calmaria no vento, a fumaça desceu, principalmente na região norte do Plano Piloto. Com o amanhecer, o vento voltou a circular e dissipou a fumaça, amenizando um pouco a situação", detalhou.
Segundo o presidente do Ibram, está sendo viabilizado junto à Secretaria de Economia a compra de mais duas estações automáticas de controle da qualidade do ar. "Uma será instalada no centro de Brasília e a outra na região sul do DF, pois, na norte, já existem duas na Fercal", anunciou Nemer. Hoje, o Distrito Federal conta com quatro unidades de monitoramento da qualidade do ar. Na plataforma inferior da Rodoviária do Plano Piloto, na Fundação Zoológico, e duas na Fercal.