Requerimentos apresentados ao colegiado pretendem convocar integrantes das forças de segurança para
Polícia Militar do DF e PRF são alvos da CPMI
D epois do depoimento de Walter Delgatti Neto na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura o 8 de janeiro, novos pedidos de quebra de sigilo e convocações para depoimento movimentaram o colegiado. Entre sexta-feira e ontem, pelo menos 93 requerimentos foram encaminhados, alguns relacionados a nomes citados pelo hacker na oitiva da semana passada, outros de integrantes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).
No caso da PMDF, o colegiado quer ouvir alguns do integrantes da corporação que foram presos pela Polícia Federal (PF), na semana passada, por suspeita de contribuírem por ação ou por omissão nas invasões às sedes dos Três Poderes. Em relação à PRF, a CPMI pretende esmiuçar a atuação de vigilantes nos bloqueios às estradas no segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
Daí porque, da PRF, foram apresentados requerimentos solicitando a quebra dos sigilos telefônicos dos seguintes agentes: Luís Carlos Reischak Júnior, ex-superintendente da PRF do Rio Grande do Sul; Djairlon Henrique Moura, exdiretor de operações da PRF no Rio Grande do Norte; e André Saul do Nascimento, ex-superintendente da PRF de Santa Catarina. Eles são investigados pelos bloqueios que pretendiam dificultar que eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fossem votar, especialmente no Nordeste.
Conexão
Mas a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), pretende ligar o escândalo da venda de jóias, que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro, com os atos golpistas. Por conta disso, ela protocolou vários pedidos de quebras de sigilo telefônico e telemático de personagens ligados à venda dos presentes recebidos por Bolsonaro de autoridades sauditas — como o advogado Frederick Wassef, que “resgatou” o relógio Rolex para devolvê-lo ao patrimônio da União; o ex-ajudante de Bolsonaro Osmar Crivelatti, apontado pela PF como responsável por assinar a retirada da peça; o militar Luis Marcos dos Reis, que, de acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), movimentou R$ 3,3 milhões e repassou parte para o tenente-coronel Mauro Cid (será ouvido na quinta-feira).
A senadora não respondeu até o fechamento desta edição que ligação enxerga entre o caso das jóias e o 8 de janeiro. Mas dos 47 requerimentos protocolados por ela, nem todos devem ser analisados — segundo pessoas próximas à relatora. Ao Correio, confirmaram que haverá “uma reunião prévia para discutir a pauta”, hoje, antes da sessão.
Eliziane garantiu, logo após o depoimento de Delgatti, na quinta-feira, que a CPMI trabalharia para confrontar o depoimento do hacker. Por causa disso, o militar da reserva Marcelo Gonçalves de Jesus e o ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Câmara — citados pelo estelionatário no esquema de adulteração do código-fonte das urnas eletrônicas — foram alvo dos pedidos de quebra de sigilo telefônico e telemático, e da solicitação de convocação.
PF quebra senhas de celulares de Wassef
A Polícia Federal (PF) quebrou as senhas dos quatro celulares de Frederick Wassef, um dos advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro, apreendidos na quartafeira — o que possibilita o acesso às mensagens trocadas por ele nos aparelhos. Wassef não forneceu nenhuma das senhas ao entregar os celulares.
O advogado levava dois celulares e os outros dois foram encontrados no carro que dirigia — um veículo sem placa, que, aliás, estava parado em uma vaga para deficientes no estacionamento da churrascaria Barbacoa, no bairro paulistano do Morumbi, onde os agentes da PF o abordaram. Cumpriam um mandado de busca e apreensão contra Wassef e apreenderam, ainda, um carregador de pistola com munição.
A PF apreendeu os aparelhos após o advogado admitir que recomprou, nos Estados Unidos, um relógio Rolex que havia sido presenteado ao ex-presidente e vendido pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. A atuação de Wassef foi no sentido de cumprir a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) para que Bolsonaro devolvesse alguns dos presentes que ganhou durante o mandato.
Inicialmente, Wassef negou que tenha feito parte de uma operação para resgatar o Rolex, que tinha sido vendido por Cid à Precision Watches, uma joalheria no estado norte-americano da Pensilvânia. Mas, diante da fartura de provas, teve de se desdizer.
“Comprei o relógio. A decisão foi minha. Usei meus recursos, tenho a origem lícita e legal dos meus recursos. Tenho conta aberta nos Estados Unidos, em um banco em Miami, e usei do meu dinheiro para pagar o relógio. Então, o meu objetivo quando comprei era exatamente para devolver à União, ao governo federal do Brasil, à Presidência da República”, justificou Wassef, na terça-feira passada.
O advogado é um dos investigados por envolvimento no esquema de negociação de presentes da Presidência. Os itens teriam sido dados a Bolsonaro durante uma visita oficial à Arábia Saudita. (AM).