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Lula fala de Tarcísio como adversário pela 1ª vez, e aliança com presidente do BC irrita governo

A ira contra Campos Neto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vocalizou ontem a irrita ção não só dele, mas também de integrantes de seu governo e da cúpula petista com a movimenta ção do presidente do Banco Cen tral, Roberto Campos Neto, rumo a uma aliança com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Repu blicanos), em 2026.

Foi a primeira vez que Lula tra tou o governador de São Paulo co mopotencial adversário nas elei ções de 2026. Em entrevista à rádio CBN, o petista afirmou que o presi dente do BC tem lado político.

"[Tarcísio] Tem mais [poder de in fluência] que eu. Não é que ele [Campos Neto] encontrou com Tar císio numa festa. A festa foi para ele, foi homenagem do governo de São Paulo para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de ju ros de 10,5%", disse Lula.

"A quem esse rapaz é submetido, como ele vai numa festa em São Paulo, quase assumindo candida tura umcargo no governo de São Paulo? Cadê a autonomia dele?", questionou o petista, que também comparou opresidente do Banco Central ao ex-juiz da Lava Jato Ser gio Moro.

"O presidente do Banco Central, que não demonstra nenhuma ca pacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opi nião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para aju dar o país", afirmou, após declarar que a autoridade monetária está "d e s a j u s t a d a" .

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que opartido prepara uma ação popu lar contra Campos Neto. "É um es cândalo isso. Vi vários comentaris tas criticando essa postura. Esta mos preparando uma ação popu lar contra ele. Por violação do inte resse público e moralidade admi nistrativa", disse ela.

Segundo Gleisi, Campos Neto mostrou o lado político e conduz o BC para impedir o crescimento do país. "Está fazendo o serviço sujo para a oposição", disse a presidente do PT.

Aliados do presidente divergem sobre a menção a Tarcísio como po tencial opositor na corrida presi dencial, uma vez que defendem a rivalidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como estratégia po lítica. No entanto, apontam como importante a responsabilização de Campos Neto pela política de juros, associando o presidente do BC ao b o l s o n a r i s m o.

Jantares

Na avaliação de aliados do presi dente Lula, a materialização dessa aliança entre o presidente do BC e a oposição pode ser constatada com a presença de Campos Neto em jantares ao lado do governador de São Paulo, além da hipótese de par ticipação em um eventual governo Ta r c í s i o.

Campos Neto jantou com o go vernador na casa do apresentador Luciano Huck, foi homenageado em outro jantar, no Palácio dos Bandeirantes, e sinalizou a Tarcísio que aceita ser seu ministro da Fa zenda caso ele se eleja presidente da República. Para a homenagem, na semana passada, o governador convidou alguns aliados, banquei ro e empresários. Campos Neto foi junto com sua família ao jantar.

Segundo relatos de presentes, o clima era ameno e descontraído. Nas conversas, Campos Neto era elogiado pela conduta à frente do BC, criticada por Lula.

Horas antes ele foi homenagea do com o Colar de Honra ao Mérito Legislativo da Assembleia Legislati va de São Paulo (Alesp), maior con decoração da Casa. A honraria foi proposta pelo deputado bolsona rista Tomé Abduch (Republicanos), vice-líder do governo Tarcísio na as sembleia.

Já na semana passada, aliados do presidente Lula foram às redes em protesto. Ex-presidente do PT, o de putado Rui Falcão (SP) foi um dos críticos. "Que vergonha esse presi dente do BC! Além de sabotar nos sa economia, virou sabujo do Tarcí sio", postou.

Gleisi também protestou nas re des, mencionando reportagem do jornal Folha de S.Paulo. "Isso é que é a tal 'autonomia' do Banco Central: diz a Folha que Campos Neto faz campanha por Tarcísio Freitas para presidência e topa ser ministro da Fazenda. Aposta na deterioração da economia do país (que ele faz de tudo para atrapalhar) para favore cer o candidato de Jair Bolsonaro. E o cara ainda está sentado na cadei ra de presidente do BC! Quando a gente diz que ele é político, jamais um técnico, ficou escancarado ago ra. Campos Neto não tem sequer resquício de autoridade para co mandar o BC", escreveu Gleisi.

Na entrevista à CBN, o presidente Lula disse que conversa com presidentes de bancos internacionais e que há muito otimismo com país, relatou índices positivos e disse fi car "triste" com a Selic. "Temos si tuação que não necessita essa taxa de juros. Não pode continuar com taxa de juros proibitiva de investi mento no setor produtivo. (...) Que oBancoCentral se comporte na perspectiva de ajudar esse país, não atrapalhar o crescimento do país", afirmou.

Apesar dos apelos de Lula, a pers pectiva vai na contramão. Os eco nomistas do mercado financeiro esperamuma decisãounânimedo Copom pela manutenção da taxa básica de juros ?a Selic? no atual patamar de 10,50% ao ano.

Lula evitou comentar quem indi caria para a sucessão de Campos Ne to no Banco Central, cujo mandato se encerra em 31 de dezembro, mes mo sendo diretamente questiona dosobreo diretor e ex-secretário da Fazenda, Gabriel Galípolo, tido co mo um dos favoritos ao cargo.

"Vai ser uma pessoa madura, ca lejada, responsável. Alguém que te nha responsabilidade pelo cargo que exerce. Alguém que não se sub meta a pressões do mercado, faça aquilo que for de interesse dos 213 milhões de brasileiros".

S A I BA MAIS

»Na entrevista Lula afirmou ainda que o Congresso se empoderou em relação ao Orçamento, citando as emendas parlamentares, e que os projetos ideológicos, chamados de "pauta de costumes", está fora da realidade do país. "Essa pauta de costumes não tem nada a ver com a realidade", disse o presidente ao se referir à discussão atual sobre a b o r to.

»O presidente afirmou que a relação com Congresso mudou muito em relação aos seus governos anteriores e minimizou os problemas atuais, como recentes derrotas.

»Lula disse que o Congresso se apoderou do Orçamento por meio de emendas, como das de relator, e afirmou que deputados e senadores "muitas vezes têm contribuído" e que, na política sempre, há problemas. "Tem que exercitar a arte de conversar e de convencer."

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