Crise no Oriente Médio, investimentos no agronegócio e doações ao Museu Nacional do Rio estão na age
Diálogo estratégico com o Egito
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou, na manhã de ontem, no Cairo, capital do Egito, onde cumpre, hoje, uma série de compromissos oficiais. Mesmo com agenda cheia, o presidente aproveitou a quarta-feira de folga para visitar as Pirâmides de Gizé e a Esfinge, consideradas maravilhas do mundo antigo, ao lado da primeira-dama, Janja da Silva. O casal presidencial esteve ainda no Grande Museu Egípcio — o maior acervo arqueológico do mundo —, que ainda não abriu as portas para o público geral.
Nas redes sociais, Lula divulgou fotos do passeio e citou o museu que visitou como exemplo para o Brasil. “Conversei sobre o apoio dos egípcios na recuperação do Museu Nacional e de seu acervo que pegou fogo em 2018”, postou. Lula e Janja assinaram o livro de presença em frente a uma estátua do faraó Ramsés, o Grande, e, depois, posaram para fotos em frente à Esfinge com uma réplica da tumba do faraó Tutancâmon que receberam de presente.
Hoje, porém, não haverá tempo livre. Lula se reúne com o presidente egípcio, Abdel Fattah ElSisi, com quem deve discutir a relação entre os dois países. Segundo o Itamaraty, devem ser tratados temas ligados à cooperação comercial e investimentos, além de parcerias nas áreas de educação e defesa. Há expectativa da assinatura de acordos bilaterais envolvendo bioenergia, ciência, tecnologia e inovação.
Na geopolítica, o grande tema da pauta é a guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas, na Faixa de Gaza. Cairo sedia as negociações por um cessar-fogo no enclave palestino, em meio à ameaça de invasão terrestre pelas forças israelenses na cidade de Rafah, na fronteira com o Egito.
Lula defende um cessar-fogo desde o início do conflito. O presidente El-Sisi foi considerado essencial nos esforços para retirar 117 brasileiros da Faixa de Gaza. Lula também deve visitar a sede da Liga Árabe e conversar com o secretário-geral do órgão, Ahmed Aboul Gheit.
Relação centenária
A visita de Lula ao Egito marca o centenário da parceria diplomática entre os dois países. Segundo o Itamaraty, o comércio bilateral em 2023 chegou a US$ 2,8 bilhões, sendo US$ 489 milhões em produtos importados do Egito, e US$ 1,83 bilhão em vendas do Brasil. No continente africano, apenas a Argélia supera em transações comerciais, com US$ 4,2 bilhões.
“Essa visita se enquadra num marco importante. Afinal, são 100 anos de relações diplomáticas ininterruptas”, declarou o embaixador brasileiro no Cairo, Paulino Franco de Carvalho Neto.
Uma das áreas mais estratégicas para o Brasil é a agropecuária. Em 2023, o país africano abriu seu mercado para uma série de produtos brasileiros, incluindo peixes e derivados, aves, algodão, bananas, gelatina e colágeno. De acordo com o Itamaraty, a expectativa é que o Egito aprove novos abatedouros e frigoríficos brasileiros para exportação de carne bovina. A comitiva brasileira também vai sugerir a abertura de uma linha aérea direta entre São Paulo e Cairo.
“Há muito interesse aqui no Egito em tentar repetir, na medida das circunstâncias e possibilidades, a experiência exitosa que tivemos com a Embrapa há 40 anos, quando conseguimos, gradualmente, tornar a agricultura brasileira uma potência”, disse ainda o embaixador.
O diplomata também destacou o papel estratégico do Egito na região como interlocutor de negociações entre países em conflito permanente, como na crise instalada no Oriente Médio com as ações militares de Israel na Faixa de Gaza.
“O Egito, a exemplo do Brasil, tem um papel moderador, um papel de equilíbrio em busca de soluções pacíficas para os conflitos aqui da região, especialmente agora, no conflito entre Israel e (o grupo fundamentalista islâmico) Hamas. É importante ressaltar que o Egito teve papel fundamental de apoio à evacuação de cidadãos brasileiros que estavam na Faixa de Gaza. Sem o Egito, nós não teríamos conseguido agir da maneira que nós agimos, com êxito”, declarou Carvalho Neto.
No fim do dia, a comitiva brasileira embarca para a capital da Etiópia, Adis Abeba, onde o presidente Lula participa, como convidado, da Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana. Também participam da cúpula o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
"O Egito, a exemplo do Brasil, tem um papel moderador, um papel de equilíbrio em busca de soluções pacíficas para os conflitos aqui da região, especialmente agora, no conflito entre Israel e Hamas” Paulino Franco de Carvalho Neto, embaixador no Cairo