dois embaixadores e um conselheiro daquele encontro ocupam postos na gestão lula
Diplomatas da reunião de 5/7 atuam no governo
Três diplomatas participaram da reunião de 5 de julho de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro estimulou os presentes a disseminarem informações falsas sobre as urnas eletrônicas. No vídeo do encontro — liberado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na sexta-feira — é possível ver representantes do Ministério das Relações Exteriores, que seguem no curso normal de suas carreiras e foram nomeados para funções no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
À mesa principal estava sentado o embaixador Fernando Simas Magalhães, então secretáriogeral do Ministério das Relações Exteriores, que representava, na reunião, o chanceler Carlos França, ausente do país naquele momento. Simas — que não usou a palavra no encontro — foi designado embaixador do Brasil em Haia pelo atual governo.
Também acompanhou a reunião de 5 de julho o embaixador André Chermont de Lima, que era o chefe do cerimonial da Presidência. No vídeo, ele aparece em pé num dos cantos da sala. Bolsonaro faz uma citação a seu nome ao anunciar que chamaria os embaixadores para um encontro e falaria sobre o sistema eleitoral do país, que ocorreu 13 dias depois. “Já acertei com o Chermont para falar com o (ministro) França. Na quinta-feira, eu vou reunir os embaixadores no Alvorada”, afirmou o então chefe do Executivo. No governo Lula, Chermont assumiu o posto de cônsul-geral em Tóquio, no Japão.
O terceiro nome do Itamaraty presente na reunião foi o conselheiro Comarci Nunes. Ele estava sentado numa das laterais da sala. Na época, era o primeirosecretário do ministério e acompanhava Fernando Simas no encontro. O conselheiro está lotado, hoje, na área de imprensa da pasta.
O Correio questionou o Itamaraty se foi adotada alguma medida após a revelação de que os três participaram da reunião ou se buscou informações sobre a presença dos diplomatas naquele encontro, mas não obteve resposta.
Comarci Nunes informou que era o primeiro-secretário e que apenas acompanhou Fernando Simas porque era seu assessor.
Na reunião no Planalto, além de Bolsonaro, oficiais militares discursaram a favor de medidas que garantissem a reeleição do então presidente. Mesmo que, para atingir esse objetivo, houvesse uma “virada de mesa”, como sugeriu o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
O ministro da Defesa à época, general Paulo Sérgio Nogueira, também presente, falou que conversava com frequência com os comandantes das três forças sobre a necessidade de se esforçarem para garantir a recondução de Bolsonaro.
Na investigação, a Polícia Federal identificou uma possível organização criminosa que atuou para impedir a derrota do ex-presidente e a vitória de Lula.
O relatório da PF, corroborado pelo Ministério Público e pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, apontou seis núcleos distintos de atuação.
Bolsonaro é citado no documento por ter estimulado a disseminação de informações falsas a respeito da urna eletrônica e por ter atuado a favor da elaboração de uma minuta do golpe, apresentada a ele por dois assessores.
Exército exonera militares alvos da PF
O Exército Brasileiro exonerou, ontem, dois militares que foram alvo, na semana passada, da Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal (PF), que investiga uma organização criminosa que planejou um golpe de Estado após as eleições de 2022.
As exonerações foram assinadas pelo comandante do Exército, general Tomás Paiva, na última quinta-feira, porém as publicações no Diário Oficial da União (DOU) ocorreram ontem.
Os militares exonerados são o tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, que deixou o comando do 1º Batalhão de Operações Psicológicas em Goiânia, e o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, removido do posto de comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais em Manaus.
Guilherme Marques de Almeida foi nomeado por Tomás Paiva para chefiar o batalhão de Goiânia no último dia 19. Em novembro, ele recebeu um salário bruto de R$ 27.417,60. Já Hélio Ferreira Lima comandava a companhia desde junho do ano passado. Segundo o Portal da Transparência, a sua remuneração bruta em novembro foi de R$ 27.027.
Militares são investigados por estimular manifestações na frente dos quartéis.
Na última quinta, a PF cumpriu 33 mandados de busca e apreensão contra militares de alta patente, ministros e ex-assessores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Bolsonaro é suspeito de ter sido o “artífice” de um golpe de Estado após perder as eleições presidenciais para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Guilherme e Hélio são citados no relatório da PF como membros de um “núcleo de desinformação e de ataques ao sistema eleitoral”. A organização do núcleo serviria para “estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o golpe de Estado”.
Hélio também é apontado como integrante de um grupo que se reunia para manter as manifestações extremistas nas frentes dos quartéis após as eleições de 2022.
No dia da operação, os dois militares foram alvos de busca e apreensão, tiveram a suspensão do exercício das suas funções públicas e foram obrigados a entregar os passaportes para a PF.
STF prestes a acatar denúncia contra PMs
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, ontem, para receber uma denúncia contra sete oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) em razão dos atos golpistas de 8 de janeiro.
A denúncia foi oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que acusa os oficiais de contribuírem, por ação ou omissão, para os atos extremistas. O julgamento ocorre no plenário virtual.
Foram denunciados os coronéis Klepter Rosa Gonçalves, excomandante-geral da PMDF; Fábio Augusto Vieira, ex-comandante-geral; Jorge Eduardo Naime Barreto, ex-comandante do Departamento de Operações; Paulo José Ferreira de Sousa, excomandante interino do Departamento de Operações; e Marcelo Casimiro Vasconcelos, ex-chefe do 1º Comando de Policiamento Regional, além do major Flávio Silvestre de Alencar, PM que estava trabalhando no 8 de janeiro; e o tenente Rafael Pereira Martins, que atuava no dia dos atentados
Dos quatro ministros da turma, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia seguiram o voto do relator, Alexandre de Moraes, pela aceitação da denúncia. Se o resultado for confirmado, os policiais passam à condição de réus na Corte.
Falta apenas o voto do ministro Luiz Fux, que pode pedir vista, ou seja, mais tempo para analisar o caso. O julgamento se estende até o dia 20. Nesse período, os magistrados podem alterar os votos.
Em janeiro do ano passado, uma série de falhas na segurança — algumas delas intencionais, de acordo com a Polícia Federal — permitiu que extremistas entrassem na Esplanada dos Ministérios, invadissem prédios públicos e os depredassem. As investigações apontaram que oficiais foram colocados de folga, em sequência, no dia em que os atentados ocorreriam.
Os policiais alvos da ação que corre no Supremo estavam à frente de batalhões estratégicos quando os extremistas invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo. As diligências revelam que policiais desarmados, apenas com cassetete e spray de pimenta, foram colocados no cordão de isolamento em torno da Praça dos Três Poderes.
Com a denúncias aceitas, caso o resultado permaneça até o final, começa a etapa de ação penal, para avaliar a culpa e eventual pena dos acusados.