Diante do Dream Team, Brasil dá adeus ao torneio, mas celebra aposentadoria de Marcelinho Huertas
Fim do sonho impossível
Paris — Como derrotar o invencível? No basquete dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, o Brasil não encontrou a fórmula para isso. Em duelo de quartas de final contra o badalado Dream Team dos Estados Unidos, a Seleção so freu com as transições rápidas e o entrosamento natural forjado pelo talento dos astros da NBA e perdeu por 122 x 87, ontem, na Arena Bercy, na capital francesa. Com a derrota, o time verde e amarelo se despede das disputas na França, enquanto os america nos seguem em busca da meda lha na semifinal contra a Sérvia.
Promessa do Golden State War riors, Gui Santos reencontrou o companheiro Stephen Curry e o treinador Steve Kerr. Também mediu for ças com ad versários que serão corriquei ros nos pró ximos anos de jornada nas quadras mais importantes do mundo da bola laranja. Talento oriundo da Vila Planalto, o cami sa 11 tornou-se, ontem, o terceiro brasiliense a enfrentar um Dream Team dos Estados Unidos em Jo gos Olímpicos. Ala-pivô de 2,04m de altura, João José Vianna, o Pi poka, foi o pioneiro. Encarou a pri meira versão do time dos sonhos em Barcelona-1992, contra Ma gic Johnson, Michael Jordan, Larry Bird e companhia, na derrota por 127 x 83 pela quarta rodada da fa se de grupos. Em Atlanta-1996, ganhou a companhia do conter râneo Tonico, ala de 2,03m de al tura, que testemunhou o triunfo norte-americano por 98 x 75 pe las quartas de final.
A derrota brasileira é mais do que normal. No entanto, a ma neira como foi conduzida chama a atenção. A equipe verde-amare la jamais havia sido eliminada na era recente da competição com um placar tão dilatado. Na edi ção de Seul-1988, caiu nas quar tas de final para a União Soviética, por 110 x 105. Quatro anos depois, despediu-se de Barcelona com 114 x 96 contra a Lituânia. Em Atlan ta-1996, com Oscar Schimidt, to mou 23 de prejuízo no 98 x 75 con tra a segunda versão do Dream Team. Em Londres-2012, esteve a seis de virar sobre a Argentina (82 x 77) e romper a barreira das oito melhores seleções.
Gui Santos, Bruno Caboclo e companhia deixam Paris com a sensação de que fizeram o possí vel contra o melhor time do plane ta, mas existe um ponto a lamen tar. O triunfo norte-americano foi o segundo com maior vantagem nesta edição dos Jogos Olímpi cos: 35 de diferença. A lista é puxa da pela exibição incontestável da Sérvia com 41 a mais sobre Porto
Rico: 107 x 66, pela segunda roda da da primeira fase. A terceira mar ca também pertence à classificató ria, quando os porto-riquenhos fo ram vítimas do modesto Sudão do Sul após tropeço por 90 x 77.
Era natural que a Seleção Bra sileira se acanhasse diante dos Es tados Unidos. A atuação até teve lances de bons encaixes em verde e amarelo, com momentos de lam pejo capazes de reanimar os torce dores. A quatro minutos do fim do segundo quarto, o Brasil estava oi to pontos atrás dos estaduniden ses: 42 x 34. Quando o cronômetro zerou para o intervalo, a diferença era de 27, com 63 x 36. A maior co laboração para o passeio tranquilo dos astros na Bercy Arena veio de um personagem contestado.
O pivô Joel Embiid até esca pou da defesa brasileira ao anotar 14 pontos e se credenciar como segundo maior cestinha dos EUA no jogo, mas não fugiu da marca ção pressão da torcida francesa. Motivo: o camaronês de 30 anos tem nacionalidade do país-sede dos Jogos e foi convidado para de fender os anfitriões nesta edição. Porém, optou por defender a na ção na qual vive desde os 16 anos. Nem mesmo o presidente francês, Emmanuel Macron, foi capaz de convencer o astro do Philadelphia 76ers a mudar de ideia.
O cestinha da partida foi brasi leiro. Nome da Seleção na campa nha do Pré-Olímpico e na jornada até as quartas de final nos Jogos de Paris-2024, Bruno Caboclo fechou a participação com 30 dos 87 pon tos do Brasil, com aproveitamen to 11/14 nos arremessos de dois pontos (79%). No mesmo quesito, Kevin Durant atingiu uma marca expressiva: passou os 488 de Lisa Leslie e virou o maior cestinha da equipe norte-americana, entre ho mens e mulheres.
O Brasil também se despede de um dos principais nomes da equipe nos últimos anos. O arma dor Marcelinho Huertas, 41 anos, aposenta-se da Seleção após qua se duas décadas de serviços pres tados, com três participações em Olimpíadas (Londres-2012, Rio 2016 e Paris-2024) e cinco Co pas do Mundo. Estreou na equi pe principal em 2005 e acumu lou conquistas importantes, co mo o ouro nos Jogos Pan-Ameri canos de 2007, no Rio de Janeiro, e nas edições 2005 e 2009 da Copa América. Para ele, a derrota para os EUA é o que menos importa. “Che gar nessa situação e terminar de pois de mais de duas décadas as sim, vou lembrar sempre desse dia”, avaliou Huertas.