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Medicamentos que vão para a natureza de forma incorreta podem prejudicar animais e humanos

Saiba como descartar remédios

    O medicamento que se joga fora, pelo vaso sanitário ou no lixo, pode estar voltando pela torneira. O descarte incorreto dessas substâncias tem um grande e nocivo impacto no meio ambiente e, consequentemente, em todos que dependem dele animais ou humanos

É através do lençol freático que tudo acontece. Quando medicamentos vencidos ou sobras de tratamentos são descartados no lixo e comumente levado aos aterros, ocorre uma infiltração no solo através do chorume. Em outros casos, o material tóxico toma um caminho mais direto através do vaso sanitário. Mesmo que o esgoto seja tratado, e não simplesmente jogado em corpos de água, os químicos nocivos permanecem. Uma estimativa do programa Descarte Consciente aponta que 1kg de medicamentos conseguem poluir 450 mil litros de água.

Todos os efeitos da presença dos fármacos em água ainda não são bem conhecidos. A tese de Doutorado de Ana Carla Corleone, que investigou a presença de químicos farmacêuticos nas águas de São Paulo, aponta alguns dos efeitos adversos descobertos em organismos não-alvos (vida não humana). Dentre eles, destacam-se estresse, ansiedade, efeito anti-predador, alteração nas respostas imunes, alteração na desova, má formação dos embriões, e alteração em hábitos de sono, mudanças, as quais, ainda não se sabem todos os desdobramentos.

Além do efeito direto na fauna, segundo a farmacêutica Fernanda Mosmann Pillar, o descarte de antibióticos na natureza pode levar à existência de superbactérias, mais nocivas à espécie humana, representando um risco em potencial mais direto.

O modo de descarte correto, e portanto que evite esses fatores, na maioria das vezes se encontra logo na esquina. Na Resolução da Anvisa nº306, de 7 de dezembro de 2004, todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal devem elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) que garanta o manejo e a destinação ambientalmente correta de medicamentos. Em geral isso acontece através de caixas especiais, disponibilizadas em farmácias, drogarias e UBSs, que se destinam a captar medicamentos e embalagens que estiveram em contato direto com a substância, como cartelas, potes, vidros de xarope, etc. O material captado é incinerado, o que minimiza seus efeitos adversos no meio ambiente e na lógica urbana.

Essa captação é válida somente para medicamentos sintéticos, feitos através de manipulação de compostos químicos e biológicos, produzidos a partir de células vivas. Um terceiro tipo, os perfuro cortantes, que envolveriam materiais como seringas, não possuem legislação específica que delimite seu descarte em comércios farmacêuticos privados, devendo ser levados a unidades públicas de saúde. Esse cuidado especial se deve não apenas aos resíduos, mas também à natureza física do medicamento, que pode vir a lesionar um profissional que venha a manuseá-lo.

É importante ressaltar que o descarte irresponsável pode ser considerado crime ambiental, e ser multado como tal, seja o autor uma empresa ou o cidadão comum. Responsabilidade é, no final, a palavra de ouro. É importante ter certeza do bom destino de um medicamento. O vizinho, a cidade, o planeta agradecem.

CGUILHERME PONTES

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