Governo revelou detalhes da dinâmica realizada pelos fugitivos e anunciou um novo diretor
Presídio tinha diversas falhas
Os criminosos que fugiram da Penitenciária Federal de Mossoró na quarta-feira encontraram uma série de facilidades que tornaram possível a saída do presídio no Rio Grande do Norte. De acordo com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, parte das câmeras não estava funcionando adequadamente e algumas luzes estavam apagadas no momento da fuga.
Lewandowski narrou parte da dinâmica da fuga. Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento fugiram do presídio após escalar uma luminária, chegarem ao teto e acessarem o setor onde é feita a manutenção do presídio.
Os criminosos pegaram ferramentas que estavam sendo utilizadas em uma obra de manutenção no presídio. Como o local reformado estava protegido apenas por um tapume de metal, onde encontraram uma brecha na proteção, saíram e cortaram o alambrado de proteção com um alicate recolhido na obra.
"A fuga ocorreu em uma terça-feira para Quarta-feira de cinzas, onde, eventualmente, as pessoas estavam mais relaxadas, como costuma ocorrer nesse momento", afirmou o ministro Ricardo Lewandowski.
Segundo o ministro, o presídio tinha diversas falhas em sua construção, o que também tornou a fuga mais fácil. "Outro fator é que o presídio estava passando por uma reforma interna, havia operários dentro da unidade, ferramentas que não estavam devidamente acondicionadas e trancadas. Possivelmente, estavam espalhadas ao alcance das pessoas que realizaram a fuga. Houve uma fuga pela luminária da cela e, ao invés de a luminária e o entorno estarem protegidos por laje de concreto, estava protegida e fechada com um simples trabalho comum de alvenaria", explicou.
De acordo com Lewandowski, há 300 agentes atuando na busca pelos detentos. Os policiais trabalham com a hipótese de que os foragidos estejam num perímetro de 15 quilômetros ao redor da penitenciária. Câmeras externas não registraram a chegada de veículos para resgatar os prisioneiros e também não foram identificados furtos ou roubos de veículos na região, o que reforça a hipótese de que Mendonça e Nascimento fugiram a pé.
O ministro relatou que nas proximidades da penitenciária uma casa foi invadida e houve furto de roupas e comidas. O que, segundo ele, indica que o ato pode estar relacionado a uma tentativa de sobrevivência dos foragidos.
"É um conjunto de circunstâncias que favoreceu a fuga desses dois detentos. É por isso que não imaginamos que tenha sido algo orquestrado de fora, arquitetado com muito dinheiro, custo, com veículos aguardando, com helicóptero. Foi uma fuga que custou muito barato", afirmou Lewandowski.
Essa é a primeira vez na história que presos conseguem escapar de um presídio federal. O ministro afastou a direção da penitenciária e escolheu um interventor para covmandar a unidade. Agente federal de execução penal desde 2006, Carlos Luis Vieira Pires assume o comando da Penitenciária Federal de Mossoró.
Mais cedo, durante coletiva de imprensa em Mossoró, o secretário Nacional de Políticas Penais (Senappen), André Garcia, admitiu falhas na implementação dos protocolos de segurança. "Não há chance de acontecer um evento dessa natureza quando os protocolos são seguidos rigorosamente", disse.
Segundo apuração preliminar, os foragidos seriam ligados ao Comando Vermelho. No mesmo presídio em Mossoró está preso o líder da facção criminosa, Fernandinho Beira-mar.
Muralhas e maior controle de acesso
O governo federal vai construir muralhas de proteção em todos os presídios federais na tentativa de evitar novas fugas de detentos. A medida foi anunciada ontem pelo ministro Ricardo Lewandowski.
Atualmente, das cinco cadeias federais, só a penitenciária de Brasília tem uma muralha de proteção. O ministro anunciou que as estruturas serão construídas nos outros quatro presídios federais - Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Porto Velho (RO) e Mossoró (RN) - com recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen).
Além das muralhas, Lewandows ki anunciou a modernização do sistema de câmeras dos presídios e controle de acesso às unidades com sistema de reconhecimento facial de presos, visitantes e advogados.
Anunciou ainda reforço no efetivo de policiais penais. Serão convocados 80 agentes já aprovados em concurso para incrementar a segurança do sistema prisional federal. O governo ainda pretende ampliar o sistema de alarme e sensores das penitenciárias. "Desde as primeiras horas do acontecimento estamos ativos, empregando todos nossos recursos para recapturar os fugitivos, apurar as responsabilidades e prevenir a repetição de um episódio como esse", disse.
A vigilância foi reforçada nas divisas do Rio Grande do Norte com a Paraíba e com o Ceará. A Interpol também foi acionada e incluiu informações pessoais dos dois fugitivos no Sistema de Difusão Laranja e no Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron).
O secretário de Segurança Pública do RN, coronel Francisco Araújo, disse que existem fortes indícios de que os dois detentos que escaparam da penitenciária federal de Mossoró permanecem nas proximidades da cidade.
"As operações de busca ainda estão concentradas na região de Mossoró e áreas adjacentes. Realizamos sobrevoos utilizando as informações fornecidas pela inteligência, e, diante de cada informação recebida, implementamos diligências para tentar localizá-los. Há fortes indícios que estão no entorno de Mossoró", afirmou Araújo.
André Garcia, chefe da Senappen, revelou ontem que a prioridade da pasta é a recaptura dos foragidos e detalhou os esforços de busca. Segundo ele, as forças de segurança estão utilizando drones, equipamentos que aferem a temperatura corporal, além de helicópteros.
S A I BA MAIS
» Após a fuga histórica, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) aumentou o nível de segurança das penitenciárias federais nesta quinta-feira e anunciou novas medidas.
» Entre elas estão a proibição de banhos de sol e visitas de familiares e advogados.
» Ainda de acordo com a portaria do MJSP, também estão suspensas atividades educacionais, religiosas e laborais.
» A única exceção da portaria é para os atendimentos emergenciais de saúde realizados nas unidades. A medida também determina limitação às áreas comuns.
» O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que espera apoio do Congresso para tornar o sistema de segurança pública "mais fu n c i o n a l " .
» O ministro defendeu, ainda, a necessidade de reforçar os laços entre União, estados e municípios. "Temos cinco penitenciárias federais, mas todas as outras pertencem aos estados", afirmou.