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De acordo com o governo que controla a região de Derna, 3.252 pessoas perderam a vida na enchente. N

Entidades divergem sobre total de mortos

» MICHEL MEDEIROS

LÍBIA

Uma semana após a tragédia que devastou parte da Líbia, a busca por desaparecidos continua. De acordo com o último balanço divulgado pelo ministério da Saúde do governo que controla o leste do país, 3.252 pessoas morreram vítimas das inundações. O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) havia declarado o total de 11.300 mortos, citando supostos dados do Crescente Vermelho, no entanto, a organização local se manifestou afirmando discordar do relatório

Com mais de 10 mil desaparecidos, os socorristas líbios, apoiados por equipes de outros países, seguem trabalhando de forma intensa. As agências da ONU alertaram que as pessoas em Derna precisam urgentemente de água potável, alimentos, abrigo e suprimentos básicos em meio ao risco crescente de cólera, diarreia, desidratação e desnutrição.

Em entrevista à AFP, Mohammed Al Zawi, de 25 anos, afirmou que na noite da tragédia viu correntes de água transportando carros com pessoas dentro, pessoas à deriva na água e objetos sendo deslocados.

Além da falta de recursos, as buscas são dificultadas pela divisão do poder, com dois governos rivais, um na capital Trípoli, que é reconhecido pela ONU, e outros no leste, na área afetada.

Embora os 3.252 mortos declarados pela autoridade local, as organizações humanitárias e as autoridades alertaram que o número de vítimas mortais pode ser superior, uma vez que há milhares de pessoas desaparecidas.

Após a divulgação dos dados pela OCHA, o Crescente Vermelho declarou-se surpreso com o relatório que cita a entidade local como fonte. “Estamos surpresos ao ver nosso nome envolvido nesses números. Eles aumentam a confusão e o desespero das famílias dos desaparecidos”, disse o porta-voz do Crescente Vermelho líbio, Tawfik Shoukri, à AFP.

O conflito nas informações evidencia a divisão e a ausência de autoridade centralizada na Líbia, um país mergulhado no caos desde a revolta de 2011 que derrubou o ditador Muammar Kadhafi.

“Vi a morte”

No domingo, 10 de setembro, a tempestade Daniel atingiu a cidade de Derna, com uma população de cerca de 100.000 habitantes, causando o rompimento de duas barragens no rio Wadi Derna.

Mohamad Abdelhafidh, um libanês que vive há décadas na cidade, afirmou à AFP que estava dormindo quando sentiu um “tremor” e viu a água subir até seu apartamento, que fica no terceiro andar. “Vi a morte”, disse ele.

Segundo os habitantes da cidade, a maioria das vítimas mortais foram soterradas ou arrastadas para o Mar Mediterrâneo. Hamza Al-Khafifi, um soldado de Benghazi, descreveu como encontrou corpos nus de “idosos, jovens, mulheres, homens e crianças” espalhados ao longo da costa. “Os corpos ficaram presos entre as rochas”.

No domingo, no porto de Derna, três mergulhadores voluntários do oeste da Líbia se limitaram a apenas observar uma equipe de resgate italiana utilizar uma câmera subaquática para procurar corpos na água.

Segundo eles, o Crescente Vermelho líbio pediu que eles deixassem o trabalho para “equipes especializadas (…) porque a decomposição dos corpos representa um risco para a saúde”.

Apesar das dificuldades, a mobilização internacional persiste e os aviões com ajuda continuam a pousar no aeroporto de Benghazi, a principal cidade do leste. No terreno, há brigadas da França, Irã, Rússia, Arábia Saudita, Tunísia e Emirados Árabes Unidos. (Com AFP)

"Estamos surpresos ao ver nosso nome envolvido nesses números. Eles aumentam a confusão e o desespero das famílias dos desaparecidos” Tawfik Shoukri, porta-voz do Crescente Vermelho

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