Postura, equilíbrio, movimentação, amor pelos animais e socialização são as principais melhorias que a equoterapia — método de tratamento com o auxílio de cavalos — desenvolve nos praticantes, pessoas com algum tipo de deficiência. O Correio foi ao Campus Planaltina do Instituto Federal de Brasília (IFB), que tem uma unidade de tratamento especializado, para conversar com professores, saber quando essa atividade é necessária e falar com pais, que destacaram a evolução dos filhos a cada sessão realizada.
Atualmente, o campus conta com mais de 100 alunos na equoterapia, que é oferecida de forma gratuita, a partir do encaminhamento da escola pública, no qual é informada a necessidade do aluno de realizar a atividade, junto com uma avaliação médica. Após essas etapas, a criança vai para a fila de espera e é chamada assim que surgir uma vaga.
O movimento tridimensional do cavalo — de cima e para baixo, da direita e para a esquerda, e para frente e para trás — causa os mesmos estímulos no corpo do praticante que uma caminhada, além de desenvolver o equilíbrio na sela. "Cada animal tem uma forma de caminhar diferente, aqui temos os de trote, que têm uma batida no chão mais dura, e temos marchadores, com uma pisada mais macia. A escolha do bicho vai variar de acordo com a necessidade do praticante", explicou Rodrigo Paulino, um dos nove professores que dão aula no campus.
Os benefícios da terapia para o aluno variam de acordo com a pessoa e a a condição física dele, comenta Paulino. "Por exemplo, quem tem Síndrome de Down vai se beneficiar muito na parte motora e física, assim como no caso da hipotonia, um problema que deixa a musculatura mais flácida. As aulas auxiliam nisso", pontua. Para quem tem transtornos do espectro autista (TEA), as melhorias são sociais. "Dependendo, a criança tem um atraso social muito grande. Vamos tentando ao longo das sessões reverter esse quadro", reforça o professor, dizendo que cada praticante fica em média dois anos na equoterapia, mas o prazo pode ser postergado de acordo com as melhoras.
Esses avanços têm ajudado bastante a pequena Luara Martins, de 6 anos, com Síndrome de Rett — mutação genética que afeta o desenvolvimento do cérebro de meninas —, que todas as quintas-feiras vai ao campus realizar uma sessão de equoterapia. A mãe, Zulene Martins, 42, conta que a filha está fazendo terapia há um ano e não parece a mesma criança de antes.
"Quando estamos vindo para a aula, ela não para de sorrir, porque sabe que vai andar a cavalo. A Laurinha ainda não fala, mas percebemos pelo rosto dela o quanto gosta de vir", observa Zulene, dizendo que, na unidade, a filha também tem muito contato com outras crianças, o que melhora a parte social da pequena.
"Trabalhar aqui é um sonho. Eu já atuava com crianças especiais e acreditava que chegar aqui era muito difícil. Quando recebi o convite, fiquei sem acreditar", conta a educadora Ana Patrícia Cavalcante, dizendo que, como profissional, se sente muito realizada ao ver a evolução de cada criança. "Observamos como eles são quando chegam e como saem daqui; parece que são outras pessoas. Também olhamos o lado dos pais, como eles se sentem felizes vendo os filhos bem, e isso não tem preço", pontua.
Saber que fez parte da vida de muitas pessoas e que tornou muitas famílias felizes é o que mais orgulha Ana Patrícia. "As pessoas colocam muita esperança em nós, e isso é muito gratificante, saber que podemos ajudá-los de diversas maneiras. Vou me aposentar no ano que vem e saio de cabeça erguida sabendo que realizei um bom trabalho e sem arrependimentos. É muito gratificante", descreve.
Satisfação essa que Sebastião Figueira, 45, pai do Rielson Figueira, 7, não deixa de expressar, pois, segundo ele, o filho teve uma evolução extraordinária. "Ele está há um ano e meio aqui e teve grande melhora na questão de equilíbrio, na independência para as tarefas diárias, como caminhar melhor e ficar mais atencioso. Quando está em contato com os cavalos, ele fica muito calmo, pois aprendeu a amar esses animais. Quando ele vê um cavalo, começa a gritar de alegria", diz.
"Quando Rielson descobre que é o dia de vir para a aula, ele mesmo pega uma camisa, calça e bota para se arrumar. A felicidade fica estampada no olhar dele", detalhou Sebastião. "Como pai, isso é algo sem explicação, não há palavras que possam descrever o quanto fico bem em ver meu garoto dessa forma. Sou muito feliz por isso e também adoro vir para o campus", enfatizou.
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*Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado
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