Nestas terça (20/8) e quarta-feira (21/8), alunos, professores e técnicos administrativos da Universidade de Brasília (UnB) escolherão a próxima reitora da instituição. A vencedora do pleito sucederá Márcia Abrahão, que comanda a universidade desde 2016, quando foi eleita a primeira mulher para o cargo na história da UnB.
O Correio conversou com integrantes dos três segmentos da comunidade universitária para entender quais são os grandes desafios da próxima gestão. Francelina Silvéria, 48 anos, é técnica-administrativa no Instituto de Ciências Exatas desde 2019. Para ela, a prova-de-fogo é conseguir manter os técnicos no quadro de funcionários da universidade. "Há uma rotatividade muito grande. Os técnicos ficam, geralmente, entre dois e três anos, e depois passam para outro concurso. Isso prejudica o fluxo do trabalho. O problema é o baixo salário", aponta.
Técnico na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Thiago Teixeira, 36, vê dificuldades relacionadas à burocracia. "O principal problema é a falta de celeridade para resolver alguns problemas", avalia.
Marri Mamede, 19, é estudante de jornalismo. O primeiro desafio, segundo ela, é o preço das refeições no Restaurante Universitário. "R$ 6 pode parecer barato, mas para quem precisa, todo dia, se alimentar lá, é caro. É um dos mais caros do país", observa.
O estudante de geografia, Arthur Walleron, 21, pede mais transparência em relação às verbas gastas na construção de edificações. "São obras intermináveis e que nunca vemos os resultados", reclama. Ele também menciona a falta de segurança para os cursos noturnos e a precariedade na mobilidade pelo campus, além de problemas com alagamentos na universidade.
A professora Márcia Marques, da Faculdade de Comunicação, considera a evasão estudantil como o principal problema na universidade. "O problema vem desde a pandemia e ainda não conseguimos superar. Parte da greve dos professores estava ligada à necessidade de voltarem os recursos para as bolsas dos estudantes. Sem isso, você não consegue manter um aluno da periferia que vai passar o dia inteiro aqui", analisa.
A professora também ressalta a necessidade de cuidar da saúde da comunidade universitária. "Pesquisas mostram que estamos adoecendo muito e a maior parte das queixas está relacionada à saúde mental", diz.
Ela também menciona a necessidade de melhorar a relação da universidade com a sociedade: "Os campi mudam a vida no seu entorno. As pessoas precisam entender a importância da universidade".
Declarações das candidatas:
Maria Fátima de Sousa (UnB que queremos): Apresentamos uma carta-compromisso, fruto de uma consulta pública. Participaram 380 pessoas, divididas em 28 grupos de trabalho, que gerou uma síntese de 10 eixos temáticos. É a partir dele que tomaremos nossas decisões.
Como primeiro ato, caso eleita, farei um congresso interno para revisitar o banco de dados da carta-compromisso, os eixos temáticos e fazer com que todo o conjunto acadêmico participe desse congresso, para que a gente possa definir as prioridades. Seremos cumpridores do que a comunidade decidir.
Dentro do eixo "Tornar a Universidade uma Promotora de Saúde", por exemplo, a ideia é cuidar e acolher as pessoas que chegam à UnB, principalmente aquelas que vêm por meio das cotas, para assegurar a permanência desses estudantes na universidade.
Quero uma UnB cada vez mais acolhedora, que as pessoas tenham uma gestão transparente, horizontal e paritária. Temos que dividir a gestão com professores e técnicos-administrativos. Também desejo uma universidade de excelência, de alto grau de internacionalização e que discuta os problemas do DF, do Entorno e do Brasil. Desejo, ainda, uma universidade sem evasão e adoecimento, de forma geral. Vivemos uma revolução tecnológica e, por isso, também quero buscar mais recursos para a área na UnB.
Rozana Reigota Naves (Imagine UnB: participar e transformar): Uma das nossas prioridades é implementar mecanismos e instâncias de participação democrática da comunidade universitária na definição das principais políticas internas da universidade. Além disso, queremos aprimorar a política de acolhimento e a assistência estudantil, ampliando a destinação de recursos e a oferta de atividades de arte, cultura e esporte, como forma de manter os estudantes na UnB.
Também queremos promover a flexibilidade curricular, a inovação nas práticas pedagógicas, a acessibilidade pedagógica e a relação com a Educação Básica. Outra proposta é fortalecer a extensão, ampliando os programas atuais e oferecendo condições às unidades de implementar adequadamente a inserção curricular da extensão.
Nosso projeto também inclui a definição de uma política de gestão de pessoas transparente e baseada em dados, que valorize as pessoas e opere com base no reconhecimento de saberes e competências.
Também queremos implementar o orçamento participativo, visando à definição de prioridades para o planejamento estratégico institucional e a execução orçamentária da UnB. Por fim, queremos retomar o protagonismo da UnB na discussão dos grandes temas de relevância nacional e internacional, tendo como eixo transversal o compromisso com a justiça socioambiental.
Olgamir Amancia Ferreira (Pensar e Fazer UnB): O grande desafio é consolidar a UnB, cada vez mais, como uma universidade de excelência e de inclusão, que se integra à sociedade, desenvolvendo ensino, pesquisa e extensão de alto nível. Nossas propostas cobrem todos esses temas, com ações concretas para o início do mandato.
Vamos começar melhorando a qualidade das salas de aula e a infraestrutura dos laboratórios, para que docentes e estudantes se sintam bem acolhidos. E, também, garantir espaços de convivência em todos os campi. Esses espaços vão permitir o desenvolvimento de atividades científicas, culturais e artísticas.
Outra prioridade é resgatar o transporte intercampi e o aprofundamento do intracampus, dando oportunidade para que os(as) estudantes possam experienciar a UnB: fazer mais disciplinas, participar dos eventos e desenvolver projetos de extensão e de pesquisa. Também vamos reduzir substancialmente o preço da alimentação no Restaurante Universitário (RU).
Temos várias propostas que visam ao fortalecimento da nossa equipe técnica, como o Pro-Qualit, um programa de qualificação das técnicas e dos técnicos, e a ampliação das vagas de mestrado e doutorado para esses servidores. Se houver um diálogo maior junto ao Executivo e ao Legislativo, tenho certeza de que vamos conseguir mais conquistas para a UnB.