O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, lançou críticas aos sistemas eleitorais do Brasil, Estados Unidos e Colômbia durante um comício na noite de terça-feira. Sem provas, ele afirmou que no Brasil não há auditoria das atas eleitorais. O comentário foi feito em meio à troca de farpas entre ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Tem 16 auditorias e se fazem auditorias em tempo real em 54?s mesas. Em que outra parte do mundo fazem isso? Nos EUA?", questiona enquanto apoiadores sacodem a mão em negativa atrás de si e o público grita "não". "É inauditável o sistema eleitoral", continua.
"No Brasil? Não auditam nenhuma ata no Brasil. Na Colômbia? Não auditam nenhuma ata. Na Venezuela auditamos em tempo real, nas mesas, 54%", completa.
Os comentários foram feitos em meio à troca de farpas entre o ditador e o presidente brasileiro - que são aliados - depois que Maduro falou sobre um "banho de sangue" caso a oposição vença as eleições marcadas para o próximo domingo.
Na mesma terça-feira, horas antes, Maduro havia dito que "quem se assustou" com suas declarações tomasse um "chá de camomila". A fala foi uma provável resposta a Lula, que no dia anterior disse ter ficado assustado com as palavras de Maduro.
"Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue", disse o presidente durante coletiva de imprensa com agências internacionais em Brasília na segunda-feira.
A fala de Lula foi a segunda crítica direta ao seu aliado. Em março, o governo criticou Maduro por não permitir a inscrição da opositora Corina Yoris para disputar a eleição. O impedimento continua sem justificativa até hoje.
Maduro se defendeu afirmando que "se, negado e transmutado, a direita extremista (...) chegasse ao poder político na Venezuela, viria um banho de sangue". "Não estou inventando, é que já vivemos um banho de sangue, em 27 e 28 de fevereiro", declarou Maduro, fazendo referência ao Caracazo, uma explosão social em fevereiro de 1989 que deixou milhares de mortos, segundo denúncias, embora o saldo oficial tenha sido de cerca de 300 falecidos.
"Eu prevejo para aqueles que se assustaram que na Venezuela teremos a maior vitória eleitoral da história", insistiu o ditador venezuelano, que aspira a um terceiro mandato que o projetaria a 18 anos no poder.
Em anonimato, um auxiliar do chanceler Mauro Vieira buscou minimizar a fala e disse que se trata de declaração de campanha, para se defender de acusações de que o sistema eleitoral do seu país não seria seguro. Para ele, caso fosse um ataque mais direcionado ao Brasil, Maduro não citaria outros países, como o fez.
Maduro governa a Venezuela desde 2013, assumindo o poder após a morte do antecessor e mentor Hugo Chávez. O ditador de 61 anos venceu eleições que os seus adversários consideraram não livres e justas. A sua reeleição em 2018 foi amplamente considerada uma farsa, uma vez que os principais partidos e candidatos da oposição foram proibidos de participar.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou ontem que o boletim de urna é "totalmente auditável". Questionado pela reportagem a respeito da declaração de Maduro, o TSE respondeu: "O Boletim de Urna (BU) é um relatório totalmente auditável".
O tribunal encaminhou ainda três textos para corroborar a afirmação. Em um deles, desmente um vídeo em circulação nas redes que defendia o voto impresso como única forma segura de contagem de votos. Sob o título "É falso que urna eletrônica não permite recontagem de votos", o TSE declara que a urna já imprime após a votação o Boletim de Urna (BU), relatório com todos os votos digitados no aparelho.
O documento é afixado na porta da seção eleitoral para conferência dos eleitores, que podem compará-lo com o que é divulgado no TSE posteriormente.
O tribunal desistiu de enviar dois técnicos para acompanhar a eleição na Venezuela. Lula determinou a ida ao país do assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim (Da Agência Estado e Folhapress).
Dias após Nicolás Maduro afirmar que haverá um "banho de sangue" na Venezuela caso a oposição, representada pelo diplomata Edmundo González, vença as eleições do próximo domingo, o filho do ditador deu uma declaração na direção oposta.
"Se Edmundo vencer, entregamos e seremos oposição, pronto. Não nasci na Presidência, meu pai não nasceu presidente", afirmou Nicolás Maduro Guerra em entrevista ao jornal espanhol El País. "E, se acabarmos virando oposição, seremos".
Nesse papel, que seria inédito para o chavismo em 25 anos, os que agora estão no poder não facilitariam a vida de seus adversários, continua. "Não sei se eles nos aguentam como oposição, somos incômodos", afirmou ele, que parece não acreditar em tal cenário. "Vamos vencer, eu garanto".
De acordo com pesquisas internas, diz Guerra, a vitória seria por 8?0%. "Neste ano, nós nunca captamos números em que aparecemos atrás. Nunca. Nem em janeiro, nem em fevereiro, nem em março. Em algum momento se pôde falar de cifras mais conservadoras que davam empate técnico", afirmou.
Diversas pesquisas mostram que, se houver amplo comparecimento às urnas e transparência no processo, a oposição sairá vencedora. De acordo com dois dos principais institutos do país, González tem 60? preferência, ante uma média de 25?8% para Maduro.
"TEMOS O MELHOR SISTEMA ELEITORAL DO MUNDO. TEM 16 AUDITORIAS E SE FAZEM AUDITORIAS EM TEMPO REAL EM 54?S MESAS. EM QUE OUTRA PARTE DO MUNDO FAZEM ISSO? NOS EUA?... NO BRASIL? NÃO AUDITAM NENHUMA ATA NO BRASIL.", NICOLÁS MADURO, presidente da Venezuela.
"FIQUEI ASSUSTADO COM A DECLARAÇÃO DO MADURO DIZENDO QUE SE ELE PERDER AS ELEIÇÕES VAI TER UM BANHO DE SANGUE. QUEM PERDE AS ELEIÇÕES TOMA UM BANHO DE VOTO, NÃO DE SANGUE.", PRESIDENTE LULA, ao falar sobre as declarações de Maduro.