O debate sobrea medida provi sória (MP) que restringia o uso de créditos tributários do PIS/Cofins acirrou a animosidade que marca a relação dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Casa Civil, Rui Costa. Aliados dos dois ministros trocam acusações sobre a responsabilidade pela crise que, na semana passada, culminou com a devolução da MP, fragilizan doa imagemdeHaddad efazendo com que o presidente Lula se mani festasse em apoio ao titular da Fa zenda.
Interlocutores do chefe da área econômica culpam Costa pelo es vaziamento do poder de negocia ção da equipe após o titular da Casa Civil ter intermediado um encon tro entre Lula e o presidente da Confederação Nacional das Indús trias (CNI), Ricardo Alban, horas antes de uma audiência com o pró prio Haddad.
Depois dessa conversa com Lula, Albanafirmouque ogovernoabri ria mão da MP, deixando Haddad sem cacife para a costura de um acordo. Alban foi presidente da Fe deração das Indústrias da Bahia durante o governo Costa.
Os aliados de Costa, por sua vez, acusa Haddad de não estabelecer pontes de diálogo com o empresa riado, além de não ter negociado os termosda MPantes desua apre sentação. Interlocutores de Costa alegam que a mediação de um en contro entre Alban e Lula tomou corpo durante viagem oficial à Ára bia Saudita e à China. O chefe da Ca sa Civil e o presidente da CNI inte gravam a comitiva, liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
Ainda segundo relatos, contra riado com o encaminhamento da proposta, Alban avisou que deixa ria a comitiva para regressar ao Brasil. Foi agendada uma audiên cia para a manhã da quarta-feira (11), que acabou atrasada em decor rência de problemas no voo do em presário. Mas aconteceu antes da audiência do presidente da CNI com Haddad.
Também segundorelatos, Alban teria reclamado a Lula da dificulda de de negociação com Haddad. O próprio presidente reclamou da desarticulação em torno da pro posta, chegando a afirmar que pre valeceu a narrativa de que o agro negócio seria atingido.
Apesar da devolução, a indústria continua insatisfeita com a falta de interlocução com o Ministério da Fazenda. Queixam-se de que, mes mo depois da polêmica, Haddad continueouvindo maisomercado financeiro do que os empresários. Um interlocutor influente da in dústria diz, de forma irônica, que Haddad está querendo fazer "su pletivo" com o mercado financeiro, enquanto o setor, na verdade, nun ca apoiou o governo Lula.
Ainda na interpretação desse in dustrial, o mercado será o primei ro a apoiar a oposição liberal nas próximas eleições, vide a articula ção em torno do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicano).
A leitura é que as relações estão desequilibradas. Um dos pontos reforçados é que há setores da in dústria que foram os primeiros apoiadores de Lula na campanha de 2022. Não haveria problema de interlocução com o Alckmin e o BNDES, mas faltaria gente na equi pe de Haddad que de fato tenha ca nal com os empresários.
Na avaliação de umafonte dain dústria paulista, Haddad, como responsável pela condução da polí tica econômica, precisa liderar esse d i á l o g o.
Segundo representantes do setor, Alban foi autorizado por Lula a anunciar a desistência da MP, que foi devolvida pelo presidente do Sena do, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com aval do governo. Durante reunião com empresários, Alban deu o reca do deLula de que o governo barra ria se a MP não fosse devolvida.
Entre os empresários da indús tria, há críticas disparadas a Costa pela falta de articulação do minis tro da Casa Civil com o setor produ tivo e por ter uma agenda própria para o seu estado, a Bahia. A Casa Civil do governo não estaria cum prindo o seu papel de organizar o governo e apoiar a coordenação política.
A leitura é de que o último mode lo de coordenação política que fun cionou foi o do ex-presidente Mi chel Temer. O então ministro Eliseu Padilha, que conhecia muito o Congresso, ficava na Casa Civil cui dando dos projetos mais impor tantes, e a coordenação política cuidava do varejo dos parlamenta res.
Já dentro do governo, aliados têm sugerido, com sutileza, que o presidente intervenha para frear a troca de farpas entre os dois princi pais ministros de sua equipe. Um armistício foi desenhado no ano passado, quando Costa encontrou Haddad na Fazenda em um aceno pela pacificação. Mas os ressenti mentos ressurgiram durante o processo de fritura do ex-presiden te da Petrobras, Jean Paul Prates. Costa é apontado como um dos responsáveis pela exoneração, da qual Haddad discordava.
Em meio ao desgastante proces so de demissão de Prates, Haddad criticou, entre aliados, a atabalhoa da forma com quefoi anunciadoo pacote de medidas voltadas ao se tor industrial apresentado em ja neiro, em evento no Palácio do Planalto.