Falta de piso tátil nos blocos e estrutura de assistência para os alunos com deficiência visual, além de capacitismo, são algumas das reclamações de pessoas com deficiência física que estudam na Escola de Música de Brasília (EMB). A instituição é uma das maiores referências de escolas de música no país e, segundo o diretor Davson de Souza, a Secretaria de Educação deu autorização para uma ampla reforma que era muito esperada para reforçar o suporte e acessibilidade de pessoas com deficiência que frequentam as aulas
Gabriela Vargas, 21 anos, é estudante da EMB e afirma querer lutar pelos direitos dela e das outras pessoas com deficiência que estudam na instituição. Gabriela destacou a situação da falta dos pisos táteis nas dependências da escola que, para a facilitar a locomoção independente dos alunos com deficiência visual, deveria ser dispostos ao longo dos corredores e salas. A descida entre os primeiros blocos para o teatro maior, como exemplifica Gabriela é íngreme e não têm onde o PCD se apoiar, com risco de sofrer um acidente.
Além disso, Gabriela aponta que os banheiros femininos e masculinos estão interditados. O banheiro para pessoas com deficiência fica trancado 24h com a chave na direção. A aluna cita ainda as rampas esburacadas, buracos no chão, instrumentos quebrados, escadas vazadas e obstáculos nos corredores.
Uma das situações vividas por Gabriela foi ser solicitada a sair de uma das aulas justamente porque o acesso era através da escada vazada. “Eu que tenho que abrir mão do meu conhecimento por ter uma escada me impedindo de subir”, declarou. A estudante abriu duas ocorrências na Ouvidoria depois disso e em seguida a passaram para outra sala. “Um professor reclamou porque eu sou privilegiada e tenho professor que não é capacitista”, acrescentou.
Gabriela afirmou ter escutado relatos de que um professor gritava com dois alunos, um deficiente visual e outro autista, usando palavrões ao se dirigir à eles. “Tem alunos que já ouviram da boca de funcionários da escola que não gostam de deficientes e que só nos consideram números”.
Além do capacitismo relatado por colegas, os alunos com deficiência visual ainda se sentem desamparados com a falta de um profissional para atendê-los na sala de recursos. Segundo Gabriela, atualmente existe uma profissional generalista que só atende pessoas do espectro autista e deficientes intelectuais. A estudante é cega total e precisa de um guia, já que não tem mobilidade perfeita. Ela precisa de atendimento em prova de musico grafia, mas frisa que a escola não oferece esse tipo de serviço. “Cobrei o acolhimento inicial que os PCDs não têm e não fui respondida”.
Ian Harun, 35 anos, estudante da instituição, tinha dificuldades em algumas aulas, mas como não se sentiu assistido pela instituição, começou a faltar por desânimo. Ele questiona o motivo das pessoas com deficiência precisarem colocar na matrícula que têm conhecimento em braille, se na escola não tem material ampliado. “Os professores se esforçam para tentar ajudar da melhor forma, mas eles não têm uma formação básica para lidar com pessoas com deficiência”, frisou.
Patricia Lima, 44 anos, estudante da EMB, se considera uma das representantes dos deficientes visuais da escola pelo tempo que luta por melhorias. Ela relata que certa vez estava em uma aula à espera do professor explicar toda a matéria para a turma e, ao término da aula, decidiu o abordar para contar a situação dela. “Falei que não enxergo o quadro e pedi para ele explicar o exemplo que estava desenhado lá, mas ele me disse que a aula era coletiva e não individua.
A Secretaria de Educação (SEEDF) informou ao Jornal de Brasília, por meio de nota, que iniciou o Estudo Técnico Preliminar (ETP), um projeto que objetiva iniciar o processo de licitação para a contratação de empresa especializada para a reforma geral das instalações do Centro de Educação Profissional Escola de Música de Brasília (EMB).
O diretor da instituição, Davson de Souza, conta que o projeto já existe na Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e que está em articulação desde o ano passado. Em abril, no marco de 60 anos da escola, foi autorizado o projeto que, de acordo com Davson, deve começar no segundo semestre.
Ele afirma que a EMB nunca foi insensível sobre a acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência. Davson destaca que é a primeira vez em 50 anos de funcioname to do prédio que vai ter uma reforma interventiva de atualização predial com esse foco especial.
A professora generalista responsável pela sala de recursos, Sara Pereira, considera que a EMB é uma resistência na cultura de ensino de música do país. "Não existe uma escola pública de ensino de música voltada à comunidade, além dessa". Para ela, intervenções e adaptações humanas fazem parte de um processo de psicoeducação de toda a sociedade, mas garante que “de forma nenhuma” pretende diminuir a dor dos alunos que se sentem ou se sentiram prejudicados.
Atualmente, oito alunos com deficiência visual estão matriculados na EMB, nos turnos matutino e vespertino. Para a grade de atendimento completa devem ser no mínimo dez alunos.
De acordo com o diretor, a escola de música é uma das pontas de todo um sistema educacional. Davson acredita que a SEEDF é uma rede e deveria funcionar como tal. "Cada um faz uma parte. A EMB é uma escola profissionalizante, independente de qual seja a condição da pessoa.
A SEEDF também informou que a EMB possui cinco bebedouros em pleno funcionamento e um em manutenção, além de contar com 25 banheiros que passam por manutenção constante. A pasta reforçou que a EMB dispõe de educador social voluntário para atendimento ao estudante com deficiência.
A pasta ressalta ainda que a EMB atende o determinado por lei, que no edital compete aos 20% para pessoas com deficiência. Então todo candidato à vaga pode concorrer e ao ser contemplado, será atendido na forma da legislação vigente, independentemente de qual seja o curso ou a sua necessidade de a d a p t a ç ã o.