O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres destoaram de outros aliados de Jair Bolsonaro e responderam às perguntas da Polícia Federal durante depoimento nesta quinta-feira referente às investigações sobre os planos discutidos no fim de 2022 para um suposto golpe de Estado contra a eleição de Lula à Presidência da República.
Valdemar deixou a sede da PF, em Brasília, por volta das 17h15. Segundo a defesa do político, ele "respondeu todas as perguntas que lhe foram feitas". Os advogados, porém, decidiram não fazer comentários sobre as apurações.
Anderson Torres prestou esclarecimentos aos investigadores durante toda a tarde. A decisão do ex-ministro de não silenciar diante da PF já havia sido anunciada pela defesa.
"[Anderson] reafirma, assim, sua disposição para cooperar com as investigações e esclarecer toda e qualquer dúvida que houver, pois é o maior interessado na apuração isenta dos fatos", disse o advogado Eumar Novacki.
Bolsonaro e os oficiais-generais Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Almir Garnier ficaram em silêncio. As defesas dos investigados alegam que não tiveram acesso à íntegra dos documentos apreendidos pela Polícia Federal, como os anexos da delação do tenente-coronel Mauro Cid.
A defesa do ex-presidente pediu três vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF) para adiar a data da oitiva de Bolsonaro. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, negou os três pedidos.
Bolsonaro chegou à sede da PF em Brasília por volta das 14h20. O depoimento estava previsto para começar às 14h30. Com a decisão de Bolsonaro de se manter em silêncio, o depoimento foi encerrado pouco depois. Ex-ministros, ex-assessores, militares e aliados também foram intimados a prestar esclarecimentos à PF no mesmo horário. No total, 23 pessoas. Só em Brasília, 13.
O advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, disse que a defesa não teve acesso a todos os elementos das imputações contra o ex-presidente, o que motivou a opção pelo silêncio. Ele também afirmou que Bolsonaro nunca foi simpático a movimento golpista.
"O presidente fez o silêncio, como a defesa antecipou. Esse silêncio, quero deixar claro, não é simplesmente o uso do direito constitucional, mas estratégia baseada no fato de que a defesa não teve acesso a todos os elementos que estão sendo imputados ao presidente a prática de certos delitos."
A PF investiga as tratativas por um golpe de Estado desde que encontrou na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, em janeiro de 2023, uma minuta de decreto para Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O objetivo seria reverter o resultado da eleição, segundo os investigadores.
Com a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e as provas obtidas em outras operações, a PF chegou à conclusão de que o ex-presidente teve acesso a versões da minuta golpista (não exatamente a mesma que estava com Torres).
De acordo com as investigações, ele chegou a pedir modificações no texto e apresentar a proposta aos chefes militares, para sondar um possível apoio das Forças Armadas à empreitada.
Na saída da sede da PF, o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência e também advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, reforçou que seu cliente não prestou depoimento por "estratégia" da defesa.
Esta foi a oitava vez que Bolsonaro prestou depoimento na PF desde que deixou a Presidência da República. Também não é a primeira oportunidade em que o ex-mandatário recorre à prerrogativa de permanecer em silêncio.
Em abril do ano passado, Bolsonaro foi intimado pela PF para explicar a sua participação no caso da venda ilegal de joias da Presidência da República. O esquema havia sido revelado um mês antes. Naquele mesmo mês, voltou a dar depoimento, desta vez explicando sua conduta em relação ao ataque aos Três Poderes, em 8 de Janeiro.
Bolsonaro voltou à PF um mês depois, em maio, para a depor sobre o as fraudes nos cartões de vacinação de covid-19 dele e da sua filha, Laura. Dois meses depois, em julho, foi novamente convocado pela corporação. Dessa vez, teve que fornecer explicações sobre uma denúncia do senador Marcos do Val (Podemos-ES). Do Val afirmou que o então presidente teria realizado uma reunião de teor golpista com o deputado Daniel Silveira.
Ainda em 2023, em duas ocasiões, ele esteve na sede da corporação para prestar esclarecimentos sobre um grupo de empresários que defendia um golpe de Estado em mensagens de WhatsApp. A esse respeito, na segunda vez em que foi intimado a depor, permaneceu em silêncio e entregou suas considerações por escrito.
» O ex-assessor da Presidência Filipe Garcia Martins negou, em seu depoimento à PF ontem, ter entregue uma "minuta do golpe" a Bolsonaro. Em delação premiada no ano passado, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, disse que Bolsonaro recebeu de Martins um rascunho de decreto, que previa a prisão de autoridades e a convocação de novas eleições.
» Filipe Martins foi um dos alvos da Operação Tempus Veritatis, deflagrada no último dia 8, que investiga uma suposta organização criminosa que planejou um golpe de Estado após as eleições de 2022. O ex-assessor foi um dos quatro aliados do ex-presidente presos preventivamente por ordem do ministro Alexandre de Moraes.
» O ministro do STF argumentou, na autorização da prisão de Martins, que o ex-assessor teria entregue para Bolsonaro uma "minuta golpista" que previa a prisão de autoridades e a convocação de novo eleição presidencial. A PF teve conhecimento do documento a partir da delação premiada de Cid.