A situação da dengue no Distrito Federal está cada vez mais crítica e o pico da doença ainda está por vir em abril. Na Rede Pública de Saúde, a procura de quem tem sintomas do vírus cresce cada vez mais. A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SESDF) está atenta à taxa de ocupação de leitos, principalmente de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e está trabalhando para que sejam ofertados mais 40 leitos, por meio da rede suplementar.
A pasta possui um grupo de profissionais dentro das unidades de saúde atentos à demanda por internação e que estão prontos para iniciar o giro de leitos sempre que necessário. Atualmente, os leitos atingem a capacidade máxima de ocupação, sendo que o suporte para os adultos se encontram com 96,13? ocupação, o pediátrico está com 88,89% e o neonatal com 98,80%.
Em menos de dois meses, 2024 já alcançou o título do ano com mais casos de dengue no DF, com 81.408 casos prováveis, de acordo com o boletim epidemiológico atualizado pela SESDF na terça-feira. Ao todo, 38 pessoas morreram após pegar o vírus da dengue na capital.
Segundo o infográfico da pasta, até o dia 20 de fevereiro foram realizados 167.572 atendimentos de dengue no sistema de saúde e 98.027 pacientes com a doença foram atendidos.
A dona de casa Nadia Cristina de Macedo, 47 anos, começou a sentir os sintomas da dengue na quinta-feira passada, com fortes dores de cabeça e tontura. “Eu já não estava com vontade de comer, aí fui ficando ruim e procurei a UPA, só que sem sucesso”.
Ontem, ela tinha um agendamento marcado na UBS de Águas Claras, mas não conseguiu ser atendida. “Agora estou com dor no corpo, nos olhos, tontura, febre e sem apetite”, relatou. Mesmo com a UBS mais vazia, ela teve que esperar para ser atendida por outro médico, porque a médica do agendamento estava de atestado.
O motorista de aplicativo Rhaniery de Souza Rocha, 40 anos, já teve dengue há dois anos, e agora está com os sintomas do vírus novamente. Dentre os sintomas que ele está sentindo estão enjoo, vômito, tontura e febre baixa. Ele procurou primeiro atendimento em uma clínica particular, mas não conseguiu ser atendido. Então está fazendo a segunda tentativa na UPA de Vicente Pires. “É o dia todo esse movimento aqui. E como eu venho deixar muito passageiro na UPA, vejo que está sempre muito cheio. Tem unidades piores, mas a demanda da dengue é alta”, compartilha. Ele acredita que teria que esperar no mínimo umas quatro horas para ser atendido.
Além de observar o movimento dos hospitais, ele também conhece várias pessoas que estão com dengue, principalmente onde ele mora, na Colônia Agrícola Samambaia. “São muitos relatos no grupo de moradores de pessoas dizendo que estão com a doença”.
A aposentada Marli Barbosa de Lima, 57 anos, foi até a UPA com o sobrinho que está com sintomas da dengue. Eles já tinham procurado atendimento na Unidade Básica de Saúde em Taguatinga, mas não conseguiram ser atendidos, porque o teste de dengue já não estava sendo realizado mais no local. “Não tinha profissional para fazer o teste, e pediram para virmos até a UPA”, conta.
Marli disse que está muito preocupada com a saúde do sobrinho, pois os sintomas pioraram ao longo do dia e a febre não passa. “Me preocupa essa demora no atendimento, porque ouvi gente aqui dizendo que chegou no início da tarde e ainda não foi atendido”, lamenta.
A doutora Ana Carolina D’Et - torres, médica infectologista, alerta que ao observar as curvas epidemiológicas anteriores, pode ser notado que o ponto mais alto da doença vai acontecer em torno de março e abril, o que impacta no aumento de casos.
Mas o que significa atingir esse pico da dengue? “Is s o significa que vamos ter uma sobrecarga significativa no sistema de saúde, uma vez que a previsão é que os números de casos de 2024 superem os números de 2023”.
Ela explica que quando se fala a respeito de sobrecarga do sistema de saúde, significa que mais pessoas vão acabar procurando assistência médica. “A dengue tem que ser monitorada, precisa de uma classificação, alguns casos necessitam hospitalizar, então a gente prevê que isso vai impactar em outras áreas também, por que uma vez ocupado com os casos de dengue, a gente deixa de oferecer leitos para outras pato l og i a s”, destaca.
Para diminuir os impactos do pico de dengue que está por vir, a médica infectologista Eliana Bicudo afirma que o momento é de correr atrás dos estragos causados pela epidemia. “A gente tem que continuar com a mesma filosofia de diminuir os criadouros de mosquito e também de usar os repelentes”. Ela lembra que é muito importante que os grupos que não vão receber a vacina, usem os repelentes, principalmente os idosos, crianças de até cinco anos e imunussuprimidos que não estão contemplados com as vacinas. “E continuar batendo na tecla das atenções básicas, que consistem em diminuir o lixo e riscos de água parada. Agora nós estamos correndo atrás do prejuízo”.