A dengue continua a assombrar o Distrito Federal. Nas tendas de apoio aos infectados espalhadas pela cidade, a realidade são pessoas da mesma família com a doença. De acordo com a Secretaria de Saúde (SES-DF) até 10 de fevereiro, 23 pessoas morreram devido à infecção e 66 óbitos estão sob investigação. O último boletim epidemiológico registrou 66.361 casos prováveis da doença até 10 de fevereiro, enquanto que no dia três do mesmo mês eram 47.471 casos.
O Correio esteve ontem em alguns pontos de atendimento. Na tenda do Sol Nascente, localizada nas proximidades da administração da cidade, até as 10h de ontem, o local havia atendido 50 pessoas. A média geral, segundo a gestão do espaço, é de 200 por dia. Maria Aparecida Rodrigues de Paula, 61 anos, chegou ao local com fortes dores abdominais, com sangramaneto e chegou a desmaiar. Ela foi levada de carro pela filha Valdete Rodrigues, à tenda. Após ser estabilizada, ela foi transferida pelo carro de resgate do Corpo de Bombeiros para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima. “Os sintomas dela começaram no sábado, veio até aqui, fez o teste, deu positivo e ela começou a tomar a medicação. Hoje ela passou mal, começou a sangrar e desmaiou, a gente se desesperou e trouxe ela para cá”, relata a filha. No início da noite, Valdete informou ao Correio que a mãe tomou medicação na UPA e foi liberada para voltar para casa, por falta de leito. Segundo a filha, as plaquetas da mãe não estão baixas e apenas a pressão está alta.
Renner Oliveira estava acompanhado da esposa, Vanessa dos Santos, porque acreditava estar com dengue. O filho do casal, Oliver Theodoro pegou dengue e se recuperou. “Resolvi vir até a tenda porque eu estou com muita ânsia de vômito”, contou Renner. “Eu trabalho com panificação e, lá, duas pessoas pegaram, além de outras pessoas da rua onde eu moro, em Samambaia”, concluiu.
A moradora do Sol Nascente, Kesley Vieira, disse que, além dela, os pais pegaram dengue. “Muitas pessoas estão pegando na rua onde eu moro. Além disso, lá é um local com alguns focos de água parada”, detalhou.
No Hospital Cidade do Sol, tem tendas de apoio da Força Aérea Brasileira (FAB), para auxiliar os doentes. Agnólia de Lima, que ainda está se recuperando da dengue, estava ajudando a irmã, Ângela Eunice, a se locomover até o atendimento. Ângela contou que quase toda a família teve a infecção provocada pela picada do mosquito Aedes aegypti. “As minhas filhas pegaram e, minha irmã ainda está se recuperando, mas precisou me trazer aqui hoje. Pelos meus sintomas, eu acredito que eu também esteja”, constatou. “Estou com muita febre, todo o meu corpo dói, enjoo e muita ânsia de vômito”, detalhou.
Antônio Rodrigues, estava debilitado, mas sem a certeza de estar com dengue. Ele foi até a tenda, mas por estar com poucos dias de sintomas, foi aconselhado a procurar um posto de saúde. “Tenho febres muito altas, não consigo me alimentar e, agora, estou tentando tomar uma água de coco para me hidratar”, relatou.
Moradora da Ceilândia, Taynara Ferreira acompanhou o marido Douglas Dionizio, que há três dias estava com fortes sintomas da doença. “Lá perto onde moramos, várias pessoas pegaram dengue e umas seis pessoas da minha família também”, afirmou.
Até 13 de fevereiro, 11.262 doses de vacinas contra a dengue foram aplicadas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), sendo os maiores números de aplicações na Asa Norte e no Cruzeiro (2.231) e os menores no Paranoá Parque e Jardins Mangueiral (936). A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) considera o desempenho dentro do esperado para um período festivo.
A imunização contra a dengue começou na última sexta-feira no DF para as crianças de 10 e 11 anos, havendo a necessidade de duas doses, com intervalo de 90 dias.
Ontem, o Correio foi à UBS 3 de Ceilândia para ver o movimento da vacinação e perguntar sobre a dengue e a importância de imunizar seus filhos contra essa doença. Maria Ferreira Lima, 43 anos, é mãe da Helena Ferreira, 10, que estava na fila para tomar a vacina da dengue. Maria aproveitou para trazer a amiga da filha, Sara Garcia, 10. Elas moram no Condomínio Agrícola Privê Lucena Roriz que, segundo ela, está cheio de casos da doença entre os moradores. “A situação lá está preocupante, o mato é muito alto e a gente não consegue ver os possíveis focos. Minha preocupação é que a gente pegue também.”, declara
Ela também ressalta a importância de tomar a vacina. “Para mim, trazer minha filha e a amiga dela para vacinar é uma forma de demonstrar amor, porque estou protegendo as duas. Não precisa ter medo de vacinar, se eles não se imunizarem agora, no futuro podem atingir um estado preocupante, caso o mosquito da dengue pique elas.”
Pedro Paulo Silva Cândido, 10, estava despreocupado enquanto fazia carinho em sua cachorrinha na fila de espera, “Não tenho medo, já tomei muitas vacinas antes. Mas ainda prefiro tirar sangue, dói menos e a gente ainda ganha lanche”, brinca o menino.
Augusto Cabral, 10, chegou ao local com o olhar mais apreensivo. A mãe dele, Jéssica Cabral, 27, diz que faz questão de levar o filho para vacinar em todas as campanhas de vacinação que vão surgindo. “A gente sempre fica de olho, ainda mais na região em que minha mãe mora que há muitos casos de dengue. Sempre fizemos nossa parte, não deixamos água parada e trocamos o lixo todo dia.”