Eles viajaram 600km de Copiapó, no Deserto do Atacama, até a capital, Santiago do Chile, movidos por um sentimento: gratidão. Alguns dos 33 mineiros resgatados da mina de San José, em 2010, depois de 69 dias soterrados, a 700m de profundidade, se despediram do ex-presidente Sebastián Piñera. Quatro deles — Esteban Rojas, Juan Carlos Aguilar, Luis Urzúa Iribarre e Richard Villarroel — fizeram parte da “guarda de honra” do caixão do líder, que coordenou os esforços de salvamento, em uma das operações mais dramáticas da história. Piñera morreu na terça-feira, aos 74 anos, em um acidente de helicóptero. O Correio entrevistou três dos mineiros que estiveram, ontem, no Palácio do Congresso Nacional do Chile.
“Viemos prestar um tributo ao nosso presidente, peça-chave no nosso resgate”, disse Urzúa, 67, por telefone. “Nós agradecemos às autoridades por terem permitido que ficássemos ao lado dele, para render-lhe uma homenagem. Foi emocionante”, comentou. “Piñera é o responsável por estarmos vivos. Está em nossos corações. Na mina de San José, hoje, 33 bandeiras tremulam. Muitas pessoas pensaram que seriam 33 cruzes.”
Urzúa contou que viajou a noite inteira e chegou de manhã a Santiago. Mais quatro mineiros se juntaram ao grupo e outros quatro são aguardados para hoje. “Tive a oportunidade de dizer à senhora Cecilia Morel (viúva de Piñera) que todos nós, os 33, estamos com ela.” Ele foi o último dos mineiros a sair da mina, na cápsula Fênix 2. “Eu estava com toda a energia e era considerado como o ‘comandante’”, disse.
Esteban Rojas revelou que sentiu “muita pena”, ao ver o caixão do ex-presidente. “Piñera nos resgatou, vivos, de baixo da terra. Vê-lo ali, sem podermos fazer nada, sem que ele pudesse sair, como fizemos...”, desabafou, por telefone. “Foi um grande presidente e um grande amigo. Uma pessoa muito humana. Sempre fez as coisas com o coração.
Uma neuropatia diabética impediu que Jose Ojeda, 59, o sétimo a sair da mina, viajasse até Santiago. Por telefone, ele se disse “muito agradecido” a Piñera por sua gestão durante o acidente. “Ele tomou boas decisões, como presidente da República”, lembra o mineiro responsável por escrever a mensagem “Estamos bem no refúgio. Os 33” — a prova de vida recebida pelas autoridades depois do desmoronamento da mina, em 5 de agosto de 2010. “Nós escutávamos o barulho da sonda perfuradora. Mario Sepúlveda (o líder dos mineiros) tinha um lápis. Apenas escrevi onde estávamos, quantos éramos e que estávamos vivos.”
Carlos Barrios, 37, o 13º a deixar a mina, viajava ontem por 11 horas de Copiapó a Santiago. “Daremos adeus a Don Sebastián Piñera. Doeu-nos a partida dele, tão repentina. Ele significou muito para nós. Nunca se deu por vencido e empregou todos os meios para nos buscar e nos retirar da mina. Ele sempre estará em nossos corações.” (RC)
“Piñera foi um estadista, uma pessoa que lutou por nós, pelo nosso resgate. Contra tudo o que falavam seus assessores, ele sempre disse: ‘Não, eles estão vivos’. É por isso que estamos aqui, hoje (ontem).” Luis Urzúa Iribarre, 67 anos, o último a sair da mina de San José.
“Piñera deu a última palavra e disse: ‘Nós os retiraremos da mina, vivos ou mortos’ e vamos encontrá-los como se fossem nossos filhos. Ele estendeu a mão a todos que se esforçaram para o nosso resgate.” Esteban Rojas, 58 anos, o 18º dos 33 mineiros a ser retirado da mina, em 13 de outubro de 2010
“Ele foi o grande líder que nos resgatou, tratou-nos como filhos dele. Foi emocionante fazer parte da guarda de honra, ao lado do caixão, e ver a sua senhora (Cecilia Morel) e seus filhos.” Juan Aguilar, 59 anos, supervisor mecânico, o 29º a ser retirado da mina