Rafah, no sul da Faixa de Gaza, próximo à fronteira com o Egito, aguarda pelo pior. Mais de 1,8 milhão de palestinos abandonaram suas casas, em meio aos bombardeios, e buscaram refúgio na cidade — cuja população, antes da guerra, somava 300 mil pessoas. “Você pode imaginar que não consegue encontrar um lugar para colocar o pé em Rafah. Não consigo pensar o que pode ocorrer no caso de uma invasão por terra”, afirmou ao Correio o ativista palestino Khalil Abu Shammala, 53 anos. Com a voz denotando cansaço, ele teme um desastre. O morador prefere acreditar que uma incursão em Rafah somente será feita após as Forças de Defesa de Israel (IDF) alertarem os palestinos a se moverem 7km rumo ao norte, até Khan Yunis, ou retornarem para suas casas. Muitos deles encontrarão apenas ruínas.
Em mais um indício de tensionamento entre Estados Unidos e Israel, dois aliados históricos, o Departamento de Estado norte-americano advertiu sobre os riscos de uma ofensiva não planejada em Rafah. “Ainda não vimos nenhuma prova de um planejamento sério de uma operação deste tipo. Realizar uma operação assim, agora, sem planejamento e sem reflexão, em uma área onde 1 milhão de pessoas se abrigam, seria um desastre”, admitiu o porta-voz adjunto, Vedant Patel.
Abu Shammala acredita que Israel pretende dividir a Faixa de Gaza em cinco áreas. “Os israelenses checarão cada pessoa que se mover de Rafah para Khan Yunis ou para o norte do território. Isso lhes dará a chance de prender ou matar palestinos acusados de ligação com o Hamas”, disse. Ele lembrou que o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que uma incursão terrestre criaria um “verdadeiro desastre “. “Haverá dois cenários: um número ilógico de pessoas morrerá ou o Exército de Israel empurrará 1,8 milhão de palestinos para o Sinai (no Egito)”, afirmou o ativista. “Nós estamos com medo e esperamos pelo pior. Há tantas pessoas em Rafah, e elas não sabem para onde ir.” Ontem Guterres avisou que uma ofensiva terrestre “aumentaria exponencialmente” o pesadelo humanitário.
Aos 13 anos, Abdallah Yazoori — sobrinho de Abu Shammala — contou ao Correio que, “a cada segundo, uma bomba explode” sobre Rafah. “Nós escutamos as notícias sobre os preparativos de Israel para uma invasão por terra. A questão que fica é: ‘Para onde nós iremos?’ Não há lugar... Mais de 1,8 milhão de civis estão desabrigados. Para onde todas essas pessoas irão, se uma operação terrestre começar?”, pergunta. “Minha experiência como criança, em meio a essa guerra nojenta, é diferente da de um adulto. Tem sido mais difícil para nós, crianças. É assustador, nós nos preparamos para morrer. Nosso destino é misterioso. Quando eu ouço um míssil explodindo, apenas coloco minhas mãos sobre os ouvidos e me preparo para o pior. Uma vez que o míssil explode, agradeço a Deus. É isso...”
Ontem, a aviação israelense intensificou os bombardeios contra Rafah, horas depois de o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu determinar às forças de segurança que fiquem de prontidão para invadir a cidade. Segundo o jornal Haaretz, em 126 dias de guerra, o movimento extremista islâmico Hamas perdeu apenas um terço de seus combatentes. Apesar da recusa de Netanyahu em aceitar a proposta de cessar-fogo feita pelo Hamas — que incluía a entrega de todos os reféns e corpos de sequestrados para Israel e a libertação de prisioneiros palestinos —, o Egito tem intensificado as mediações para impulsionar uma trégua.
Autoridades do Cairo se reúnem, hoje, com representantes do Hamas e da Jihad Islâmica. O governo egípcio exortou “às partes que demonstrem a flexibilidade necessária” para alcançar um acordo. Volker Türk, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, denunciou indícios de que as Forças de Defesa de Israel planejam destruir todos os prédio em Gaza localizados a um quilômetro da fronteira com o território israelense.
"Quando eu ouço um míssil explodindo, apenas coloco minhas mãos sobre os ouvidos e me preparo para o pior" Abdallah Yazoori, 13 anos, morador de Rafah. Na foto, com o tio Khalil Abu Shammala
Em uma aparente escalada de tensão na região da Alta Galileia, no norte de israel — fronteira com o Líbano —, a milícia xiita libanesa Hezbollah disparou 30 foguetes contra o território israelense. de acordo com o jornal Times of Israel, não há informações sobre feridos ou danos. O Hezbollah anunciou que a ofensiva foi uma retaliação à "agressão sionista" contra cidades libanesas. Mais cedo, as Forças de defesa de israel realizaram um ataque com drone que matou dois agentes do Hezbollah. A foto mostra bombaardeios israelense ao vilarejo de Marwahin, no sul do Líbano.