O Ministério da Saúde iniciou, ontem, a distribuição das vacinas contra dengue para os municípios que atendem aos critérios definidos pela Pasta em conjunto com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). A imunização vai começar pelas crianças de 10 e 11 anos, avançando a faixa etária progressivamente, assim que novos lotes forem entregues pelo laboratório fabricante.
Segundo o ministério, o início da vacinação por essa faixa etária é uma estratégia que permite que mais municípios recebam as doses neste primeiro momento, diante do quantitativo limitado de vacinas disponibilizadas pelo laboratório fabricante.
A escolha também é baseada no maior índice de hospitalização por dengue dentro da faixa etária de 10 a 14 anos. O lote inicial de vacinas, com 712 mil doses, será enviado aos seguintes estados, contemplando 315 municípios: DF, GO, BA, AC, PB, RN, MS, AM, SP e MA. O Distrito Federal e o estado de Goiás receberam as primeiras remessas ontem. Os demais irão receber ao longo dos próximos dias.
Neste primeiro envio, com o quantitativo de vacinas disponível, o Ministério da Saúde atende 60% dos 521 municípios selecionados. Com o recebimento das 6,5 milhões de doses disponíveis pelo laboratório em 2024, o Ministério da Saúde garantirá a vacinação de todo o público-alvo, de 10 a 14 anos, nos municípios selecionados, ao longo dos próximos meses, de forma progressiva.
Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde coordena um esforço nacional para ampliar o acesso a vacinas para dengue. A pasta solicitou prioridade para essa ação e atuará em conjunto com o Instituto Butantan e a Fiocruz para expandir a produção de vacinas para o Brasil.
O Ministério da Saúde reforça que este é o momento de intensificar a prevenção, o cuidado e agir conjuntamente com governadores, prefeitos e toda sociedade para a eliminação dos focos do mosquito transmissor da dengue.
Cerca de 75% dos focos do mosquito estão dentro de casa. A recomendação do Ministério da Saúde é para que as pessoas procurem um serviço de saúde logo nos primeiros sintomas, como febre alta, dor de cabeça, atrás dos olhos e nas articulações.
A Fiocruz anunciou ontem que vai dobrar a produção de testes moleculares de diagnóstico (RT-PCR) de dengue neste ano. Os exames, que serão entregues ao Ministério da Saúde, identificam o sorotipo do vírus (1,2,3,4) e também outras doenças como zika e chikungunya.
Ao todo, serão 600 mil testes desenvolvidos em 2024. Metade deles será entregue nos primeiros meses do ano. “Esta iniciativa visa fortalecer o diagnóstico preciso e ágil, permitindo uma resposta eficaz diante das doenças transmitidas pelo aedes aegypti”, ressaltou o presidente da Fiocruz, Mario Moreira.
Cerca de 395 mil brasileiros estão com dengue neste momento, segundo o Painel de Monitoramento da Dengue. O número de mortes chegou a 53 pessoas — outras 281 estão sendo investigadas. Ontem, a capital paulista registrou a primeira morte de 2024 pela doença.
O Distrito Federal segue liderando a taxa de incidência (nº de casos/100 mil habitantes) entre os estados brasileiros, com mais de 1.700 pessoas. A unidade federativa foi a primeira a receber doses da vacina Qdenga, que chegaram ontem à Secretaria de Saúde.
Com a incidência também alta, seguem a sequência do ranking: Minas Gerais (665), Acre (542), Paraná (387), Goiás (333) e Espírito Santo (298).
O epidemiologista David Soeiro Barbosa alerta que o cenário brasileiro deve continuar acentuado. “Devemos considerar que é esperado um agravamento da situação atual nos diferentes Estados. Observaremos a declaração de emergência em saúde pública e cenários epidêmicos em diferentes municípios brasileiros, como já ocorre no Distrito Federal e Belo Horizonte”, comentou.
Há uma grande diferença entre o número de casos neste início de ano em todas as regiões do Brasil, em relação ao último ano. Dados do Ministério da Saúde mostram que, na última semana, foram mais de 67 mil casos prováveis de dengue, enquanto, no mesmo período do ano passado, foram 27 mil. Em 2023, os casos começaram a aumentar em abril, que é o período de pico da doença no país usualmente.
“O número de casos nas primeiras semanas do ano, em comparação ao ano anterior, nos sugerem um cenário de agravamento da situação. A curva de casos prováveis observada permite deduzir que teremos um agravamento da situação até o mês de abril/maio e reduzindo de intensidade após esse período”, alerta o epidemiologista.