Baku — “Nós visitamos 15 seções em três áreas distintas. Eu observei que a transparência é muito grande, em um processo voluntário. Vimos uma fiscalização muito ampla, muito organizada, muito segura.” O relato do senador Carlos Viana (Podemos-MG) resume como a eleição presidencial no Azerbaijão, realizada ontem, terminou vista pela comunidade internacional. Ao todo, 790 observadores de distintos países acompanharam o processo — o primeiro que envolveu todo o país, após o fim da guerra de décadas na região de Nagorno-Karabakh. A apuração parcial aponta que o presidente Ilham Aliyev, 62 anos, foi reeleito para mais um mandato de sete anos com mais de 90% dos votos. As pesquisas de boca de urna indicavam que Aliyev teria 93,9% dos votos. Outros seis candidatos participaram do processo eleitoral.
O Correio acompanhou a votação em duas cidades. Em Fuzuli, um dos territórios liberados com o fim do conflito com separatistas armênios, a fila de espera para votar demorava de 40 a 45 minutos. A maioria era formada por homens, afinal, trata-se de uma área em reconstrução, habitada basicamente por operários. Depois de fazer a identificação, com a coleta manual da impressão digital, o eleitor recebia a cédula impressa e dirigia-se à cabine. Em seguida, depositava o voto em qualquer umas das duas urnas — não há distinção entre elas, são separadas para tornar o processo de votação e apuração mais célere.
Cenário parecido ocorria em Susha, cidade-símbolo do povo armênio. Os prédios de seis andares em construção, que devem ser entregues até o fim do ano, sinalizavam que a população tinha o mesmo perfil de Fuzuli: em sua maioria, operários. Com um número três vezes menor de habitantes, a fila andava mais rápido. Os eleitores levavam de cinco a 10 minutos, dependendo da sazonalidade do horário.
Nas duas cidades liberadas, observadores turcos acompanharam o processo de votação. “Acreditamos que, no Azerbaijão, que é um país democrático, as eleições serão realizadas de forma profissional e transparente”, afirmou Osman Mastan, presidente da Comissão de Relações Internacionais e Direito da Assembleia Parlamentar dos Estados Turcos. A Turquia é um dos principais aliados do Azerbaijão na região. “Dois Estados, uma nação” é um ditado popular muito comum no Cáucaso, sobre a relação entre os dois países.
O resultado oficial da eleição deve sair amanhã. É o tempo estimado para a contagem de todos os votos — o processo é manual. “Nós observámos que, logo cedo, nas mesas que monitoramos, as pessoas vieram votar com muito entusiasmo. Acredito que esta é mais uma prova de que a população quer contribuir para o futuro do país, com a sua participação ativa”, disse Naike Gruppioni, integrante do Parlamento italiano que atuou como observador do processo eleitoral.
De acordo com Mazakhir Panakhovm chefe da Comissão Eleitoral Central, 67,7% dos eleitores foram às urnas. No Azerbaijão, o voto não é obrigatório. A nação está no centro dos olhares do mundo. Em novembro, o país vai sediar a COP29 — a cúpula do clima da Organização das Nações Unidas (ONU). Depois da COP28, realizada em Dubai, que sinalizou para a “eliminação gradual” do uso de combustíveis fósseis em todo mundo, o encontro, em Baku, deve apontar de onde virá o dinheiro para financiar a transição energética.
Em 2025, será a vez do Brasil receber a discussão ambiental, com a COP30, em Belém. A expectativa do Itamaraty é de que, no fim do próximo ano, o debate se concentre, efetivamente, na mudança da matriz energética. Por isso, o Azerbaijão ganha atenção especial. Com uma economia altamente concentrada na exploração do petróleo e do gás natural, o que trouxe muita riqueza e investimentos nas últimas duas décadas, o país é um bom exemplo sobre como enfrentar a prometida transição energética.