O presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, estuda métodos de trabalho para modernizar o órgão e seguir os padrões internacionais de coleta de dados. Em entrevista ao Correio, ele afirmou que o esforço se concentra em atualizar a metodologia do Produto Interno Bruto (PIB), com previsão de apresentação neste ano.
“Não é algo que emerge de uma visão específica. Isso é discutido em congressos, estatísticas internacionais, no interior dos institutos nacionais e estatística, uma grande preocupação em atualizar a capacidade metodológica de capturar as transformações que estão em curso na economia mundial”, disse o presidente do IBGE.
Pochmann disse que o novo modelo deve acompanhar o que é usado em outros países. “Na verdade, quem está acompanhando a evolução das contas nacionais, das metodologias, percebe que se segue, sempre, um padrão internacional. O código de boas práticas em estatísticas, tudo o que fazemos de maneira geral, está padronizado em termos internacionais, para permitir a comparabilidade”, afirmou.
A previsão, segundo ele, é que a atualização seja apresentada ao longo de 2024. O reconhecimento de novos setores das atividades econômicas como, por exemplo, a área de serviços, também será fundamental para a modernização da pesquisa.
“Toda vez que há um avanço metodológico, percebe-se que há partes que compõem o valor agregado da atividade econômica, que não havia sido capturada. Então, os PIBs terminam atualizando a forma de medida, sendo atualizado à medida que se consegue, de forma padronizada no mundo, algo que antes não se tinha condições de medir”, destacou.
Marcio Pochmann explica que uma parte desse mercado consegue ser mensurada pelas estatísticas oficiais do país. Isso inclui a quantidade de trabalhadores que, atualmente, trabalham com aplicativos de transporte ou de entregas, por exemplo. Por outro lado, há, ainda, um grande conjunto na economia digital que ainda não é representado pelos dados oficiais.
“Já se captura a parte da economia digital. Fizemos, recentemente, uma pesquisa inédita sobre os trabalhadores de plataformas. Não se sabia precisamente quantos trabalhadores estariam nessa atividade no Brasil e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) capturou isso. Mas ainda não medimos, por exemplo, os trabalhadores de redes sociais monetizadas, quantos youtubers, por exemplo, existem”, destacou.
A indicação de Marcio Pochmann ao comando do IBGE gerou críticas de uma parte dos agentes do mercado, pois ele é visto como um integrante da ala mais radical do PT. Economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi presidente do Instituto de Pesquisas Especiais Aplicadas (Ipea), entre 2007 e 2012, e nesse período foi acusado de interferir diretamente na linha de atuação do órgão.
Pochmann rebate as acusações e ressalta que, no Brasil, a manipulação de dados existiu apenas em 1973, época da ditadura militar, quando o índice oficial de inflação ainda era calculado por uma instituição privada, a Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele atribuiu as críticas do mercado a um preconceito de classe.
“A instituição teve presidentes vinculados ao mercado financeiro, neoliberais e de extrema direita, mas nunca teve questionamento dessa natureza. Jamais pensaria em algo como manipulação e censura. No entanto, entendo também que há um preconceito de classe, que vem de determinados segmentos, porque eu sou o primeiro presidente da instituição, que é um economista do trabalho”, disse.
Para Arilton Freres, sociólogo e diretor do Instituto Opinião, depois dos desgastes do instituto, qualquer mudança deve ser cautelosa. “Ao mesmo tempo que o IBGE é sinônimo de confiança e de credibilidade no Brasil, ele tem sofrido no último período algumas notícias negativas. Basta lembrar o que foi o Censo e todas as dificuldades e, mais recentemente, a polêmica no entorno da posse do Marcio Pochmann”, afirmou.
Apesar da resistência inicial, o presidente do IBGE tem conquistado espaço. “O mercado sempre tem suas preferências, e tenta influenciar (ou minar) as escolhas do governo. Reputo o Pochmann como um técnico competente e responsável, que deve respeitar a cultura do IBGE, que é muito forte e tem uma tradição corporativa importante”, ressalta o economista Roberto Piscitelli.
Para Eduardo Velho, sócio e economista-chefe da JF Trust, a resistência a Pochmann é política e não deve influenciar os padrões técnicos do IBGE. É importante lembrar que, nos últimos anos, muitos empregos foram trocados nessa substituição da produção para o segmento digital. Essas mudanças acontecem em vários países. Quanto às resistências ao presidente do IBGE, isso são questões mais políticas, acredito que não interfiram em nada”, concluiu.