Jornal Ceilandense
Militares iniciaram as visitas a residências e comércios em regiões do DF com maior número de casos, Exército entra nas ações contra a dengue
Wednesday, 31 Jan 2024 18:00 pm
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Com a explosão de casos de dengue na capital do país, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) e o Exército começaram a trabalhar em conjunto no combate ao Aedes aegypti. Após uma capacitação realizada pela pasta, 247 militares foram às ruas para detectar possíveis focos do mosquito. Ontem, eles iniciaram as ações de enfrentamento nas regiões de Samambaia e de Ceilândia. O DF registrou 29,5 mil casos e seis óbitos confirmados da doença, desde o início deste ano.

Segundo o Exército, eles farão visitas em residências e comércios, além de atuarem como motoristas do carro fumacê. Utilizando ambulâncias do Exército, os militares também transportarão os pacientes que necessitarem de encaminhamento a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou a um hospital, de acordo com a gravidade do caso. Outra frente de ação será o empréstimo de camas de campanha — 30 no total.

Os militares designados para os mutirões foram treinados e capacitados pela Secretaria de Saúde. Na manhã de ontem, ocorreu a formatura que marcou o início das ações do Exército nas ruas. Os soldados se juntarão aos 750 agentes de Vigilância Ambiental em Saúde (AVA) do GDF, que atuam no combate à dengue. Na cerimônia, a secretária da pasta, Lucilene Florêncio, destacou que, nesse momento, intensificará as visitas aos domicílios. “Vamos, principalmente, visualizar os criadouros, os locais que são abrigo para larvas, utilizando o fumacê, com o apoio do Exército. As decisões e as medidas vão sendo tomadas de acordo com a epidemiologia e a estatística”, ressaltou.

A secretaria fez um apelo para que a população se cuide e, se houver sintomas da doença, procure as unidades de saúde e tendas. “No momento, pedimos que, aos primeiros sintomas, procure as unidades básicas de saúde (UBS). São 175 unidades no Distrito Federal, e nós temos nove tendas posicionadas nas cidades onde temos o maior número de casos”, enfatizou Lucilene.

Segundo ela, em torno de 33?5% dos pacientes que são atendidos nas tendas carecem de hidratação venosa. Luciliente ressaltou que, se houver uma procura intensificada nas tendas e unidades básicas de saúde, a pasta aumentará o atendimento, buscando apoio e parcerias com as faculdades e as escolas técnicas. “Temos um planejamento e uma equipe técnica. Vamos aumentar a quantidade e estamos prontos. A situação não é, no momento, de tranquilidade, mas ela não é de perda de controle, e, sim, de proatividade”, avaliou a gestora da pasta.

Para o general Carmona, comandante militar do Planalto, o apoio do Exército é extremamente relevante para o país, tendo em vista o elevado número de casos. “Vamos apoiar o Governo do Distrito Federal da melhor forma, cumprindo a nossa missão constitucional e, particularmente, ajudando a população e o governo local”, destacou. Ele explicou que, para cada grupo de combate composto por 12 militares, haverá um agente da vigilância da saúde. “Dentro dessa estrutura, nós podemos aumentar o efetivo de acordo com a necessidade”, comentou.

O comandante afirmou que os soldados treinados irão atuar seguindo os critérios da Vigilância Ambiental. “Eles vão entrar nessas residências devidamente autorizados e em casas que forem indicadas pela Secretaria de Saúde. Ali, irão verificar se há pontos de mosquito e orientar a população de como deve atuar. Se esse combate ocorrer de maneira adequada em cada residência, vai minimizar muito a disseminação do mosquito”, ressaltou.

Áreas

De acordo com a SES-DF, as Regiões de Saúde com mais casos de dengue são a Oeste, onde estão localizadas as regiões administrativas de Brazlândia e Ceilândia, e a Região Sudoeste, composta por Águas Claras, Recanto das Emas, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires. Segundo o general, os militares irão para as áreas escolhidas pela pasta.

Para o início da ação de combate, a Quadra 406, de Samambaia, e a QNN 21, de Ceilândia, foram os alvos da ação. A casa da empresária Laís Lino, 32 anos, foi uma das visitas dos militares. A moradora de Samambaia contou que teve dengue uma vez, no ano passado. “Deus me livre de pegar de novo. Dói demais”, recordou. Para ela, é muito preocupante a alta de casos no DF. “A gente fica com medo”, destacou.

A dupla de soldados que visitou a casa de Laís procurou por possíveis pontos de foco de mosquito no quintal, olhando vasos de plantas e ralos de escoamento. “É muito bom eles estarem olhando e verificando os pontos de dengue para ajudar a população, porque tem muita gente que não cuida. Não adianta a gente ficar de olho na nossa casa, se a pessoa do lado não estiver atenta”, disse a moradora. “Hoje em dia, qualquer dor de cabeça, a gente fica com receio de que seja dengue”, completou a empresária.

Atendimento

Na tenda montada na Administração Regional de Samambaia, as cadeiras colocadas para que a população esperasse o atendimento estavam praticamente lotadas. Mesmo assim, quem passou por lá, elogiou a fluidez. A manicure Jéssica Tayane Fernandes, 33, foi uma das que procuraram o local. “Vim da UPA, onde não consegui atendimento depois de esperar praticamente três horas. Aqui, foi completamente diferente, meu atendimento se resumiu em cerca de uma hora, desde a triagem até a consulta com o médico”, detalhou.

Ela conta que, felizmente, teve uma caso leve da dengue. “Senti dor no corpo, vômito, disenteria e desidratação desde sábado. Tudo que eu estava comendo, colocava para fora”, lembrou Jéssica. Depois de ser atendida na tenda, a manicure levou sua mãe, Salete Alves, 68, e o filho, Arthur Fernandes, 9, para receberem o diagnóstico. “Ele está com sangramento no nariz, e minha mãe está com disenteria há oito dias”, detalhou. Jéssica relatou que, apesar de ter contraído a doença, não pôde deixar de trabalhar. “Oito pessoas pegaram dengue no salão. É complicado pegar atestado. O que estamos fazendo é nos revezar, enquanto uns descansam um pouco em casa, os outros trabalham, mesmo doente. Não tem como parar”, lamentou.

A professora Kesya Aquino, 40, estava na tenda de hidratação com o filho, Miguel de Aquino, 10. Ela contou que ambos contraíram a dengue. “Comecei a sentir os sintomas no domingo, enquanto o meu filho, a partir de ontem”, disse. “Fiquei com muita dor no corpo e na cabeça. Ele vomitou bastante, quatro vezes só hoje (ontem), e teve febre muito alta (39ºC)”, acrescentou. “É a primeira vez que procuramos a tenda. No domingo, consegui ser atendida na UPA, passando a tarde inteira. O atendimento demora um pouco, mas, se comparado às Upas e às UBSs, está bem melhor”, disse.

A educadora disse que mudou para Samambaia há cerca de 20 dias e, por isso, não tem noção de como está a doença na vizinhança. “Só que vim de Ceilândia e, por lá, sei de muitos casos entre os meus antigos vizinhos. Acredito até que eu tenha pegado a doença por lá”, avaliou.

Jhennifer Lima, 24, acompanhava o marido, que estava com suspeita da doença. “Ele está com os sintomas desde ontem (terça-feira). O caso, aparentemente, é mais leve”, relatou. A autônoma contou que pegou dengue na semana passada, só que um pouco mais grave. “Tive muita dor no corpo e taquicardia. Graças a Deus, não precisei internar. Porém, no meu caso, fiquei cinco dias de cama, sem conseguir levantar. O sentimento é de que você vai morrer”, recordou a jovem.

A moradora da Quadra 503 afirmou que tem medo, pois são muitos casos e mortes pela doença. “Por enquanto, ainda não teve ninguém da minha família que pegou o tipo mais grave, mas ficamos com medo pela minha avó, que tem uma idade mais avançada”, ressaltou.

Coordenadora da tenda, Joanna Costa disse ao Correio que, apesar da grande demanda, a equipe está organizada e dando conta dos atendimentos. “Temos servidores em número suficiente e estamos conseguindo ajudar a população, na medida do possível”, destacou. “Hoje (ontem), estamos com poucos casos mais graves. Felizmente, não precisamos transferir nenhum paciente para unidades hospitalares”, complementou Joanna.

Telefones úteis

» 199 —trata das demandas específicas da dengue e serve para denúncias de carcaças de carro e entulhos acumulados

» 162 —trata de solicitação para coleta de lixo

Ministra visita tenda

A ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, visitou, ontem, a tenda de acolhimento a pacientes com dengue, instalada pela Secretaria de Saúde na Administração Regional de Ceilândia, e destacou que o DF está dentro dos pontos de maior preocupação. Nísia Trindade disse, ainda, que a vacina será enviada de forma prioritária às regiões com maiores índices de casos, como ocorre na capital federal.