Todos os dias, o clínico geral Hazem Abu Moloh, 51 anos, morador do campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, se mantém com apenas uma refeição diária. “Nós nos alimentamos de comida enlatada, que raramente conseguimos. Não existe segurança alimentar em Gaza. Você pode imaginar centenas de milhares de pessoas vivendo em tendas e em abrigos improvisados. A ajuda humanitária que passa pelas fronteiras é escassa. Eu me alimento uma vez por dia para que meus quatro filhos — um rapaz de 22 anos e um menino de sete; e uma moça de 21 e uma garota de 11 — consigam comer”, relatou ao Correio, por meio da internet, em meio a dificuldades de conexão.
No último domingo, Abu Moloh reencontrou amigos que não via há um tempo. “Percebi que o peso deles tinha caído pela metade”, comentou. Segundo ele, ante a falta de gás, as pessoas começam a usar lenha para preparar o pouco alimento. “Os preços estão muito altos, especialmente de gêneros alimentícios. Por aqui, muitos se perguntam: ‘Há uma trégua no horizonte?’”, acrescentou. O médico palestino relatou que mais de 170 mil prédios da Faixa de Gaza foram arrasados. “A infraestrutura está destruída, e isso inclui a rede de água e de esgoto, as universidades, as escolas, as ruas. Gaza precisará de muitos anos difíceis para voltar a ser o que um dia foi.”
Michael Ryan, diretor do Programa de Emergências Sanitárias da Organização Mundial da Saúde (OMS), advertiu que os moradores do enclave palestino estão “à beira do abismo”. “Os civis de Gaza não fazem parte desse conflito e devem ser protegidos. É uma população que morre de fome , que está à beira do abismo”, alertou. “Eles estão imersos em uma enorme catástrofe, mas, se me perguntarem se a catástrofe pode se agravar, sim, completamente.”
Abu Moloh concorda com a conclusão da Organização das Nações Unidas (ONU): os bombardeios israelenses contra o grupo extremista palestino Hamas transformaram a Faixa de Gaza em um território inabitável. A agência da ONU para o desenvolvimento e o comércio UNCTAD citou um nível “sem precedentes” de destruição. “Serão necessárias dezenas de bilhões de dólares e décadas para reverter” essa situação, apontou o organismo. “Mesmo com o fim da operação militar e com a recente taxa de crescimento de 0,4 ponto percentual, Gaza somente vai recuperar o Produto Interno Bruto (PIB) em níveis de 2022 em cinco anos”, acrescentou a UNCTAD.
Com 2,4 milhões de habitantes, Gaza amarga 50? sua infraestrutura danificada ou destruída. Há relatos de que, em meio ao desespero da fome e da sede, alguns comem grama e bebem água poluída. Por e-mail, Adam Shapiro — diretor para Israel e Palestina da Dawn, ONG que luta pela democracia e pelos direitos humanos no Oriente Médio e no Norte da África — afirmou ao Correio que a OMS monitora a situação no terreno. “Temos recebido relatos de muitas agências e de contatos nossos de que os palestinos de Gaza estão sem comida e não recebem ajuda suficiente para se sustentarem. Adultos que têm filhos estão comendo menos de uma refeição por dia, para darem tudo o que podem a eles. Mas mesmo isso não tem sido o bastante”, disse.
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, divulgou na terça-feira que a guerra deixou 26.751 palestinos mortos, incluindo 11.500 crianças e 8 mil mulheres. Ao menos 7 mil pessoas estariam desaparecidas e 2 milhões se tornaram deslocadas internamente. Israel também impôs um bloqueio rigoroso ao fornecimento de água, medicamentos, alimentos e energia a esse território, de 362 quilômetros quadrados.
As tratativas para um novo cessar-fogo em Gaza ganharam força nas últimas horas. David Barnea, chefe da Mossad, o serviço secreto de Israel, apresentou ao gabinete de guerra do premiê Benjamin Netanyahu um plano de trégua de nove pontos que prevê libertar todos os 136 israelenses feitos reféns pelo Hamas em várias etapas. A emissora Canal 12 divulgou que a primeira fase do acordo contemplaria a soltura de 35 sequestrados ao longo de 35 dias de cessar-fogo. Nessa etapa, seriam libertados pelo Hamas mulheres, doentes, feridos e idosos. O número de prisioneiros palestinos a serem soltos dos centros de detenção de Israel ainda não foi definido.
Em discurso transmitido por vídeo, Netanyahu declarou que não aceitará um acordo “a qualquer preço”. “Nós estamos trabalhando para obter outro plano para liberar nossos cidadãos cativos, mas eu reitero: não a qualquer preço”, afirmou. “Temos linhas vermelhas. Não colocaremos fim à guerra, não retiraremos as Forças de Defesa de Israel (IDF) da Faixa de Gaza, não libertaremos milhares de terroristas”, assegurou.
Durante reunião de embaixadores na ONU, o primeiro-ministro denunciou que a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) foi “totalmente infiltrada” pelo Hamas. “Nós precisamos que outras agências da ONU e entidades humanitárias substituam a UNRWA”, afirmou Netanyahu. O governo de Israel acusou a instituição de envolvimento no massacre de 7 de outubro, quando cerca de 2 mil extremistas do Hamas invadiram o sul do Estado judeu e assassinaram 1.200 civis e militares. Segundo Israel, pelo menos 12 funcionários da UNRWA participaram do ataque terrorista.
Ante as acusações, EUA, Reino Unido, Alemanha e Japão suspenderam a entrega de dinheiro à UNRWA. O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou a agência como a “espinha dorsal” da ajuda à Faixa de Gaza. “Ontem (terçafeira), me reuni com os doadores para ouvir as suas preocupações e expor as medidas que estamos tomando para resolvê -las (...). A UNRWA é a espinha dorsal de toda a resposta humanitária em Gaza”, disse a um comitê da ONU sobre os direitos dos palestinos.
Um navio mercante foi atingido por um míssil ao largo da costa do Iêmen, informou a empresa de segurança marítima ambrey. "de acordo com nossas informações, um navio mercante foi alvo de um 'míssil' enquanto navegava (...) a sudoeste de Áden, no Iêmen", informou a ambrey, acrescentando que "o navio relatou uma explosão" a bordo. a ambrey tinha conhecimento de que foi disparado um míssil a partir de (...) Taiz", localidade do Iêmen, acrescentou a empresa. O comunicado foi publicado depois que os rebeldes huthis do Iêmen, apoiados pelo Irã, afirmaram ter disparado mísseis contra um navio americano que se dirigia a portos israelenses.