O governo brasileiro e a Agência Internacional de Energia (AIE) firmaram um acordo de cooperação para acelerar a transição energética no mundo. O documento foi assinado pelo ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira e pelo diretor-executivo da agência, Fatih Birol.
O tratado tem como fim acelerar e ampliar a matriz energética brasileira de forma limpa, diversificada e inclusiva, com investimentos em fontes renováveis de biocombustíveis. Com sede em Paris, o órgão internacional reúne 50 países, representando 80% do consumo mundial de energia, para cooperação em dados, sugestões de políticas públicas e tecnologia voltados para apoiar a segurança e a transição energética.
De acordo com a pasta, a colaboração acontecerá por meio do compartilhamento de base de dados e o desenvolvimento de estudos sobre o setor de energia, além de apoio no âmbito do G20 — fórum de cooperação econômica internacional — em meio à presidência brasileira do grupo.
Segundo Silveira, o Brasil pretende liderar as discussões sobre a sustentabilidade no mundo, representando os países do Sul Global. O ministro destacou a necessidade de participação dos países do Sul Global, menos desenvolvidos, no debate. “Somente a monetização da indústria verde pelos países industrializados vai inserir os países em desenvolvimento na geração de mais emprego, renda e, assim, fazer acontecer essa transição energética que nós todos defendemos”, frisou.
De acordo com o ministro, o principal pilar defendido é de que a transição energética aconteça de maneira justa e inclusiva. Ele afirmou que o governo brasileiro pretende usar o modelo do programa Luz Para Todos como referência para auxiliar outros países na inclusão energética. “Com a nossa experiência, podemos ajudar as demais nações, para além da questão da transição energética, a combaterem a pobreza energética, se espelhando no nosso Luz para Todos”, declarou.
Para o diretor-executivo da AIE, os próximos anos representam uma oportunidade única para o Brasil. “A razão pela qual estou visitando Brasília é muito simples: acredito que Brasília, que o Brasil em geral, está entrando em um período sem precedentes da história econômica e política nos próximos dois anos”, declarou Birol. Além do G20, ele citou a realização da COP30, a conferência internacional do Clima, em Belém no próximo ano.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, voltou a negar que o governo fará qualquer interferência no comando da Vale. Na semana passada, a sinalização de que o presidente Lula pretendia escalar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para a cúpula da empresa. Mas a ideia não prosperou. Nos bastidores, ganhou força o nome do ex-CEO da empresa, Murilo Ferreira. Ele esteve à frente da mineradora de 2011 a 2017. “Eu não o conheço (Murilo Ferreira), só ouvi falar de nome. A Vale segue um caminho natural da sua governança e natureza jurídica, que tem seus investidores nacionais e internacionais, que escolhem de forma interna seus dirigentes”, disse Silveira. (RG)
Birol afirmou que o Brasil deve responder por 4? produção mundial de petróleo em 2030, e manterá esse nível até 2040. Ele avaliou ainda a grande dependência do mundo de petróleo e derivados. “O petróleo é algo estratégico. A demanda global deve chegar a um pico antes de 2030. Há dois motivos para acreditar nisso: a transição para uma energia limpa, particularmente no setor de transportes, e outras melhorias na eficiência energética”, disse.
“Em cenários climáticos mais fortes, o consumo [de derivados de petróleo] não chegará a zero, diminuirá significamente, mas não mudará da noite para o dia. Não devemos ter esse tipo de expectativa, de que não precisaremos de petróleo para nada, temos que ser realistas”, acrescentou o executivo da AIE.
Questionado sobre a contradição da agenda verde enquanto o país avança na exploração de petróleo, o ministro de Minas e Energia disse: “Nunca vi nenhuma incongruência entre nós sermos líderes das energias renováveis, com 88? nossa matriz elétrica sendo limpa e, ao mesmo tempo, nós ainda [temos investimentos em petróleo] por uma necessidade de combate à desigualdade.”
E acrescentou: “A própria palavra diz transição, transição não é mudança. Transição é um processo. Então o Brasil tem que se olhar e com muita parcimônia ajudar o mundo a valorar a transição energética para que a gente a acelere e ao mesmo tempo olhar para a sua gente para que ela não deprima sua economia”, completou o chefe da pasta.