O Instituto Butantan — fundamental no combate à pandemia da covid-19 ao fabricar, no Brasil, a vacina Coronavac — está perto de lançar o seu imunizante contra dengue. De acordo com um estudo científico publicado, ontem, na revista científica The New England Journal of Medicin e reproduzida por uma publicação da Universidade de São Paulo (USP), a vacina de dose única contra a dengue de tecnologia nacional, desenvolvida pelo instituto, apresentou eficácia geral de 79,6% em pessoas de 2 a 60 anos.
A taxa é semelhante à registrada pela Qdenga (80,2%), do laboratório japonês Takeda, que passa a ser ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir deste mês, mas em duas doses. A expectativa é que o imunizante seja submetido à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda neste ano para, provavelmente, estar disponível para uso a partir de 2025.
A nova vacina, testada em 16.235 voluntários em 16 centros de pesquisa espalhados pelo Brasil, registrou eficácia em 79,6% dos participantes sem evidência de exposição prévia à dengue e de 89,2% entre os que tinham histórico de exposição aos tipos 1 e 2 da doença.
No período de estudo, os tipos 3 e 4 de dengue não foram detectados. Contudo, o diretor do Butantan, Esper Kallás, primeiro autor do artigo, informou que os pesquisadores estão atentos. “A vacina funcionou muito bem contra os tipos 1 e 2. Estamos acumulando mais informações contra os tipos 3 e 4, incluindo a indução de anticorpos contra a dengue”, disse ele ao Jornal da USP. “Quando falamos de vacina da dengue, estamos, na verdade, falando de quatro vacinas ao mesmo tempo. Esse é o aspecto mais difícil: fazer com que quatro vacinas contra os quatro tipos de vírus da dengue andem em caminhos paralelos, induzindo à proteção de forma equilibrada”, disse Kallás.
Na separação por idade, entre os participantes de 2 a 6 anos, a eficácia foi de 80,1%. Entre os voluntários de 7 a 17 anos, o percentual caiu para 77,8%. Já entre aqueles de 18 a 59 anos, a vacina foi mais assertiva para a maioria, ultrapassando 90%. Contra o vírus da dengue tipo 1, o percentual de eficiência da vacina foi maior, de 89,5%, e, contra o segundo tipo, de 69,6%.
Atualmente, há duas vacinas contra a dengue disponíveis no mundo. Além da tetravalente Qdenga, do Japão, indicada para pessoas entre 4 e 60 anos, existe a tetravalente Dengvaxia, de origem francesa, aplicada em três doses e indicada para pessoas entre 9 e 45 anos. Contudo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso desse imunizante somente em pessoas que tiveram contato com o vírus.