A Polícia Federal cumpriu ontem mandados de busca e apreensão para avançar na investigação sobre a atuação da chamada "Abin Paralela" no governo de Jair Bolsonaro (PL). Um dos alvos é Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente. Na nova ação, a PF mira pessoas que foram destinatárias das informações produzidas de forma ilegal pela agência de inteligência do governo federal. Segundo a PF, as medidas cumpridas têm como objetivo "avançar no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)".
No gabinete de Carlos, no Rio de Janeiro, os agentes procuraram um notebook, computadores desktop e documentos. Outros alvos da operação são a assessora Luciana Paula Garcia da Silva Almeida e o chefe de gabinete de Carlos, Jorge Fernandes. Esse último também é alvo de outra investigação junto com o vereador. Fernandes é suspeito de ser o operador de um suposto esquema de "rachadinha" no gabinete de Carlos.
Também é alvo Priscila Pereira e Silva, ex-assessora de Alexandre Ramagem, chefe da Abin sob Bolsonaro, que foi alvo da operação na semana passada. Relatórios produzidos pela agência sob Bolsonaro e o uso do software espião First Mile estão no centro da investigação da Polícia Federal.
Os investigadores afirmam que oficiais da Abin e policiais federais lotados na agência monitoraram os passos de adversários políticos de Bolsonaro e produziram relatórios de informações "por meio de ações clandestinas" sem "qualquer controle judicial ou do Ministério P ú b l i c o" .
O programa espião investigado pela PF tem capacidade de obter informações de georreferenciamento de celulares. Segundo pessoas com conhecimento da ferramenta, ela não permite os chamados "grampos", como acesso a conteúdos de ligação ou de trocas de mensagem.
Além de Carlos, os policiais também investigam suposto uso da agência para favorecer Flávio e Jair Renan. Em live neste domingo ao lado dos filhos Flávio, Carlos e Eduardo, Bolsonaro negou que tenha criado uma "Abin paralela" para espionar adversários.
Um dos locais em que a PF cumpre mandado de busca e apreensão nesta segunda é a casa de Jair Bolsonaro em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro. O local entrou na lista de buscas da PF após a descoberta que Carlos estava na casa, de onde transmitiu uma live com o pai neste domingo.
Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o vereador acordou com a notícia de que era um dos alvos da PF quando se preparava para passar mais um dia na praia com o pai em Mambucaba, uma vila histórica de Angra.
Ainda segundo a coluna, a casa estava vazia na manhã desta segunda quando a Polícia Federal chegou ao local (Da Folhapress).
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se defendeu das acusações de que o governo tinha uma Abin “pa - ra lela ”, conforme indicado por investigação da Polícia Federal (PF).
Segundo Bolsonaro, a operação que mirou o filho dele Carlos Bolsonaro, nesta segunda-feira, trata-se de uma de “uma perseguição i m p l a c áv e l ”. “No meu entender, o objetivo é esculachar”, disse em entrevista à rede de televisão Jov em Panna tarde desta segunda.
Ele ainda indicou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes como o responsável pela perseguição e negou que tenha utilizado a estrutura da Abin para perseguir alguém.
“Eu tinha minha inteligência particular. O que é a minha inteligência? Não é um braço da Abin. Não é um braço da PF. Ninguém. A minha inteligência particular são as pessoas que eu conheço não só no Brasil como ao redor do mundo. Sempre que algo acontece, eu ligo para essas pessoas”.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) publicou nas redes sociais um salmo, na mesma manhã em que o enteado, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), foi alvo de uma operação da Polícia Federal. "Nenhuma arma forjada contra você prevalecerá, e você refutará toda língua que a acusar", escreveu Michelle.
Além de Carlos, os policiais investigam suposto uso ilegal da agência para favorecer Flávio e Jair Renan.
O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), afirmou que as investigações envolvendo a Abin indicam que havia uma organização criminosa a partir do Palácio do Planalto de Jair Bolsonaro (PL).
Questionado sobre a suspeita de interferência de integrantes da atual gestão da Abin nas investigações da PF, Padilha defendeu "a apuração sobre o envolvimento individual em todas as instituições".
"Os processos de apuração não se restringem à Abin, envolvem todos os órgãos, sejam civis ou militares. E nós não descansaremos enquanto todos aqueles envolvidos com os crimes preparatórios do dia 8 de janeiro e o próprio 8 de janeiro sejam devidamente apurados, punidos", disse Padilha.
"Existia uma organização criminosa a partir do Palácio do Planalto do governo anterior, que envolveu várias instituições. O clima e o ódio semeados no governo anterior contaminaram várias instituições civis e militares. A apuração sobre o envolvimento individual em todas as instituições têm que continuar". A estrutura criada na gestão Bolsonaro usava ilegalmente uma ferramenta israelense para monitorar a geolocalização de adversários do ex-presidente.
A Polícia Federal cita como prova da atuação de Carlos Bolsonaro, também conhecido como “0 2” na chamada "Abin Paralela", uma mensagem em que uma assessora do vereador pede para Alexandre Ramagem que levante informações sobre investigações contra Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos.
Na mensagem, de 2020, a assessora Luciana Almeida diz: "Bom diaaaa. Tudo bem? Estou precisando muito de uma ajuda". Depois, ela envia outra mensagem com referência a um inquérito. "Delegada PF. Dra. Isabella Muniz Ferreira - Delegacia da PF Inquéritos Especiais Inquéritos: 73.630 / 73.637 (Envolvendo PR e 3 filhos)".
"A solicitação da 'ajuda' se referia a investigações que envolveriam filhos do então presidente da República e deste mesmo. A autoridade representante enxerga no episódio o recurso do que chama de núcleo político do grupo ao dr. Ramagem, para obtenção de informações sigilosas e/ou ações ainda não totalmente esclarecidas", diz trecho da manifestação da Procuradoria-Geral da República sobre o pedido de busca da PF.
Ainda de acordo com o pedido da PF, a solicitação de ajuda "relacionada à Inquérito Policial Federal em andamento em unidades sensíveis da Polícia Federal indica que o núcleo político possivelmente se valia do delegado Alexandre Ramagem para obtenção de informações sigilosas e/ou ações ainda não totalmente esclarecidas".
A PF cita no pedido outra passagem em que Ramagem favoreceu a família Bolsonaro na Abin.
Segundo trecho da decisão de Moraes, em fevereiro de 2020, o então diretor da Abin teria imprimido um relatório com "informações de inquéritos eleitorais em curso na Polícia Federal que listavam políticos do Rio de Janeiro".
Relatórios produzidos pela agência sob Bolsonaro e o uso do software espião First Mile estão no centro da investigação da PF.
Os investigadores afirmam que oficiais da Abin e policiais federais lotados na agência monitoraram os passos de adversários políticos de Bolsonaro e produziram relatórios de informações "por meio de ações clandestinas" sem "qualquer controle judicial ou do Ministério Público" .
O programa espião investigado pela PF tem capacidade de obter informações de georreferenciamento de celulares. Segundo pessoas com conhecimento, ela não permite os chamados "grampos", como acesso a conteúdos de ligação ou de trocas de mensagem.