O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, defendeu, ontem, o investimento do Estado na indústria, como forma de fomentar a economia brasileira. Conforme salientou, países que são grandes potências econômicas oferecem subsídio estatal para induzir desenvolvimento e o Brasil precisa seguir a tendência global.
“Não temos como reerguer a indústria brasileira sem uma nova relação entre Estado e mercado. Não é substituir o mercado, não é desacreditar da importância do mercado, que é uma instituição indispensável no desenvolvimento econômico”, disse Mercadante. O investimento público na indústria, por meio do BNDES, tem sido alvo de críticas de economistas e integrantes do setor, que veem uma repetição de velhas políticas.
No lançamento do programa Nova Indústria Brasil, ontem, no Palácio do Planalto, Mercadante rebateu críticas à política industrial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — há setores que compararam que o programa lançado ontem com a política dos “campeões nacionais”, colocada em prática no segundo governo de Dilma Rousseff e que foi considerada um fracasso porque favoreceu indústrias e setores que podiam prescindir do financiamento do BNDES. O presidente do banco de fomento afirmou que para a economia do Brasil continuar em crescimento, “precisamos colocar a indústria no coração da estratégia”.
“A gente rega essa indústria ou não vamos ter um mercado de trabalho de emprego qualificado, com inovação em ciência e tecnologia. O Brasil é a nona economia, vai virar a oitava e pode ser mais do que isso. Mas, sem indústria, não chegaremos lá”, frisou.
Mercadante citou a China e os Estados Unidos como exemplo de países que oferecem subsídios para a indústria e conseguem atrair empresas de todo o mundo, o que, em sua visão, contribui para que sejam grandes potências econômicas. “Quero perguntar a esses que todos os dias escrevem dizendo que estamos trazendo medidas antigas: me expliquem a China. Por que a China é o país que mais cresceu no mundo durante 40 anos? Me expliquem a política econômica americana: subsídio, incentivo, investimento público, atraindo empresas, inclusive, brasileiras, que estão indo para lá por esses subsídios, que recebem na frente, em dinheiro do Tesouro”, lembrou.
Para o presidente do BNDES, investir na industrialização é essencial para diminuir as desigualdades, gerar emprego e promover o desenvolvimento sustentável do país. “Para ser menos desigual, mais moderno e mais dinâmico, precisamos colocar a indústria no coração da estratégia. Essa é a orientação do presidente Lula e é o que nós estamos fazendo e entregando”, observou.
Me expliquem a política econômica americana: subsídio, incentivo, investimento público, atraindo empresas, inclusive, brasileiras, que estão indo para lá por esses subsídios, que recebem na frente, em dinheiro do Tesouro” Aloizio Mercadante, presidente do BNDES
Qualquer empresa interessada em aderir aos projetos do Nova Indústria Brasil, terá que cumprir alguns pré-requisitos. Do contrário, poderá não ser aceito ou ter o contrato suspenso. Segundo Mercadante, o empresário ou empresa interessados em obter uma dessas linhas de crédito não poderão ter sofrido acusação ou processo de desmatamento, nem ter sido flagrados explorando mão de obra análoga à escrava.
“No caso do agro (programas destinados a esse setor), não pode desmatar. Temos um convênio com o MapBiomas (que acompanha e registra as áreas devastadas em todo o país) e se tiver algum indício de desmatamento, será bloqueado na hora. Multa do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Renováveis) ou outro episódio, suspende o contrato. E também será exigido o trabalho digno de qualquer empresa. Se tiver na lista de trabalho análogo à escravidão, terá o financiamento suspenso. E não terá acesso ao crédito”, alertou Mercadante.
A mesma restrição vale para quem se envolver em casos de homofobia ou assédio. “Se tiver, também, condenação por assédio ou homofobia, será aberta uma investigação administrativa. E pode ter o financiamento suspenso. O Brasil que queremos é o do crescimento, do emprego e o da produtividade”, salientou.
Entidades que representam a indústria e congressistas apoiaram o programa Nova Indústria Brasil, lançado ontem pelo governo federal, em evento no Palácio do Planalto. Até mesmo quem faz oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o ex-líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara, o deputado federal licenciado Ricardo Barros (PP-PR), elogiou em postagem via redes sociais.
“Excelente iniciativa do governo federal”, publicou. O comentário do hoje secretário de Estado da Indústria, Comércio e Serviços do Paraná foi seguido de uma reportagem, cujo título dizia que “Plano de Lula para indústria prevê R$ 300 bilhões em financiamentos”.
Líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) chamou o programa de “neoindustrialização”. “Serão R$ 300 bilhões para financiamentos destinados à nova política industrial até 2026. Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, e presidente do CNDI (Conselho Nacional de Indústria e Comércio) fala sobre os investimentos previstos para a neoindustrialização”, registrou.
Outro petista, o deputado Odair Cunha (MG), primeiro vice-líder do partido na Câmara, destacou que “uma nova política industrial está nascendo para impulsionar o crescimento do país e melhorar a vida da população. Inovadora, sustentável e alinhada às grandes transformações do nosso tempo”, salientou.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) comemorou a nova política industrial, ao considerar as iniciativas “apropriadas para o atual momento socioeconômico”. Nas mesma direção, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) demonstra o reconhecimento do governo federal da importância da indústria de transformação no objetivo de colocar a economia brasileira entre as maiores do mundo.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) comemorou a nova política industrial, ao considerar as iniciativas “apropriadas para o atual momento socioeconômico”. Nas mesma direção, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) demonstra o reconhecimento do governo federal da importância da indústria de transformação no objetivo de colocar a economia brasileira entre as maiores do mundo.