O acordo de delação premiada do ex-policial Ronnie Lessa — acusado de participar da execução da ex-vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e do motorista da parlamentar, Anderson Gomes — para a Polícia Federal (PF) pode levar à solução das investigações do caso. Ontem, o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, trouxe a informação de que Lessa optou pela colaboração com as autoridades.
Fontes ligadas à investigação, que falaram sob a condição de anonimato ao Correio, confirmaram a existência do acordo de delação. A reportagem também apurou que o órgão investigatório determinou internamente que as informações referentes ao crime sejam tratadas com o máximo de sigilo para não atrapalhar as apurações. Os termos da delação serão submetidos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), e precisam ser homologados para terem validade legal.
Preso desde março de 2019, Ronnie Lessa é apontado como o principal suspeito da autoria dos assassinatos e é visto como peça essencial para desvendar as motivações dos assassinatos. Ele é conhecido como “exímio atirador”, o que poderia explicar a precisão dos tiros que mataram a vereadora e o motorista no Centro do Rio de Janeiro. A expectativa é de que ele diga quem foi o mandante dos assassinatos e quais foram as motivações para que o crime fosse concretizado.
O secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, afirmou, ontem, que “o inaceitável assassinato de Marielle e Anderson será esclarecido” e que “tudo indica que não demorará”. A fala veio pouco depois de o jornal O Globo divulgar a possível delação de Ronnie Lessa.
Para Cappelli, os últimos cinco anos foram marcados pela ausência de esforços para solucionar as execuções, que seguem com investigações em curso. “O que faltou durante os últimos anos foi vontade política”, criticou o secretário.
“Em pouco mais de um ano, com a ação técnica e determinada da Polícia Federal, sempre com todo apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o inaceitável assassinato de Marielle e Anderson será esclarecido. E tudo indica que não demorará”, afirmou o secretário-executivo.
Desde que o Presidente Lula assumiu o governo federal, foram feitas sinalizações de que morte da vereadora não ficaria impune. Em dezembro, o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, garantiu que a resolução estava próxima. Em cerimônia com tom de despedida da pasta, rumo ao Supremo Tribunal Federal (STF) em fevereiro, Dino declarou: “As investigações avançaram, ao longo de um ano, e quero reiterar e cravar que não tenho dúvida que o caso Marielle, em breve, será integralmente elucidado. É um caso fundamental, pelo simbolismo de defesa das mulheres, das mulheres na política, e, portanto, de defesa na política porque quem precisa de mulheres na política não são as mulheres, é a política, a democracia”.
Marielle e Anderson foram mortos a tiros em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, localizado na região central da capital fluminense. A vereadora, que saía de um evento com mulheres negras, foi atingida com quatro disparos na cabeça. Anderson Gomes, motorista do carro que a transportava pela cidade, foi alvejado por três projéteis nas costas e também morreu.
Segundo Élcio de Queiroz, que dirigia o carro com Ronnie Lessa e já fez delação à PF no ano passado, Lessa foi o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson.
Pelas redes sociais, a deputada Erika Hilton (Psol-SP) disse que o acordo de delação é a “peça que falta para solucionar o caso”. “Já são 5 anos e 10 meses que queremos justiça por Marielle e Anderson. Que a delação de seu executor leve a polícia aos mandantes do crime”, afirmou a parlamentar.