Região que, proporcionalmente, deu mais votos a Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas eleições presidenciais, o Nordeste é, paradoxalmente, um problema para o PT na disputa municipal. Sem ter elegido nenhum prefeito de capital de estado quatro anos atrás, o partido do presidente Lula não encontrou, na região, muita abertura para aproveitar seu principal cabo eleitoral. O PT ainda não tem nenhum candidato competitivo para apresentar ao eleitorado das capitais nordestinas nas próximas eleições.
Na maioria dessas cidades, o PT deverá se aliar a partidos que, hoje, estão na base do governo Lula. O apoio se dará mesmo naqueles estados que deram um caminhão de votos para o atual presidente, em 2022, como a Bahia, governada pela legenda há 17 anos.
O PSB, mais forte aliado do lulismo no campo progressista, tenta o apoio do presidente da República para reconduzir João Campos à prefeitura de Recife, e eleger o deputado estadual Duarte Junior, em São Luiz. O MDB, por sua vez, quer ter Lula como cabo eleitoral nas disputas majoritárias de Salvador e de Maceió.
O PT, por enquanto, estuda lançar candidatura própria em Fortaleza, João Pessoa, Natal, Teresina e Aracaju, mas apenas nas capitais do Ceará e do Piauí os pré-candidatos da legenda largaram com boas intenções de voto. Na viagem que fez ao Nordeste, na semana passada, o presidente Lula fez questão de elogiar a gestão do governador do Ceará, Elmano Freitas, que deve ser um dos principais cabos eleitorais do atual presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, que deixou o PDT de Ciro Gomes para se filiar ao PT com o objetivo de disputar a prefeitura da capital.
O partido quer aproveitar o racha entre os irmãos Gomes (Ciro e Cid) para impedir a reeleição do atual prefeito, José Sarto, do PDT. Tanto que Lula fez questão de convidar o ex-governador Cid Gomes (que está deixando o partido fundado por Leonel Brizola) para subir no palanque do evento que patrocinou em Fortaleza, na sexta-feira.
A disputa pela capital cearense também vai opor dois ministros do atual governo: Camilo Santana (Educação), um dos principais apoiadores da précandidatura de Leitão, e Carlos Lupi (Previdência), presidente nacional do PDT.
Em Teresina, o governador, Rafael Fonteles, e o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, trabalham fortemente para lançar a candidatura do deputado estadual Fábio Novo pelo PT. Ele deve protagonizar a disputa com o atual prefeito, Dr. Pessoa (Republicanos), que ainda não declarou oficialmente se vai concorrer à reeleição, mas conta com uma ampla base de apoio entre os partidos conservadores e a corrente bolsonarista no estado.
Na Bahia, estado governado há 17 anos pelo PT, a disputa pela prefeitura da capital deve ficar polarizada, novamente, entre um candidato da base aliada de Lula e um do Carlismo (comandado pelo ex-prefeito ACM Neto), que, com apoio do bolsonarismo, tentará reeleger o prefeito Bruno Reis (União Brasil). O candidato apoiado pelo PT deve ser o atual vice-governador do estado, Geraldo Júnior (MDB), com aval do governador, Jerônimo Rodrigues.
O PT também deve apoiar um candidato do MDB em Alagoas. A disputa, lá, tem uma característica diferente, por envolver dois caciques da política nacional – o senador Renan Calheiros (MDB) e o deputado Arthur Lira (PP). O apoio de Lula é apontado pelo grupo de Calheiros como estratégico para evitar que o atual prefeito, João Henrique Caldas (conhecido como JHC), do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, se reeleja com o apoio de Lira.
Em Recife, a divisão do campo progressista entre PSB e PT pode deixar o partido do presidente de fora do segundo turno da disputa municipal, assim como aconteceu na última eleição para o governo do estado. O socialista João Campos vai tentar se reeleger e, para isso, costura uma ampla frente de apoio à esquerda e à direita. Mas o PT defende candidatura própria e tem no nome do ex-prefeito e atual deputado estadual João Paulo sua principal aposta.
A ida do ex-governador do Maranhão Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal movimentou o tabuleiro político no Maranhão. Sem seu mais influente padrinho, o atual governador Carlos Brandão herdou a responsabilidade pela costura que deve unir o PSB ao PT como líderes de uma ampla frente de partidos na disputa pela prefeitura de São Luiz. O nome preferido do governador é o do deputado federal Duarte Júnior, com a vaga de vice indicada pelos petistas.
Apenas em Aracaju e em Natal os atuais prefeitos não poderão disputar a reeleição por estarem concluindo o segundo mandato consecutivo.